Microclima do canal auditivo de cães e efeito do Rosmarinus officinalis L. e do Triticum vulgare no tratamento da otite externa experimental
Resumo
Objetivou-se avaliar o microclima do canal auditivo de cães e determinar o
efeito do Rosmarinus officinalis L. (alecrim) e do Triticum vulgare (trigo) em orelhas
hígidas e no tratamento da otite externa experimental não infecciosa de ratos Wistar.
Para análise do microclima do canal auditivo foram considerados 141 cães hígidos,
destes 30 utilizados para avaliação do pH do canal auditivo e 111 para aferição das
temperaturas auditivas. Os cães foram distribuídos em dois grupos de acordo com a
quantidade de cerúmem ausente a leve e moderado a intenso e o canal auditivo foi
lavado para aferição do pH. A diferença entre a temperatura retal (TR), aferida com
termômetro coluna de mercúrio e a temperatura auditiva média (TAM), aferida com
termômetro infravermelho, foi avaliada para classificação em escores: A=TAM<TR
em até 1,2ºC e B=TAM<TR em mais de 1,2ºC, relacionando-as com a conformação
da orelha. Para avaliação do efeito dos extratos vegetais na otite externa, 64 ratos
Wistar foram submetidos à inoculação no conduto auditivo de 80µL de óleo de
cróton 5% em acetona e, em 24h as orelhas foram avaliadas por escore clínico. Os
animais foram divididos em cinco grupos, sendo o tratamento tópico realizado por
até sete dias com extrato aquoso de alecrim 25% em propilenoglicol (grupo I), óleo
essencial de alecrim 25% em propilenoglicol (grupo II), extrato aquoso de trigo 0,2%
em propilenoglicol (grupo III), propilenoglicol (grupo IV) e com NaCl 0,9% (grupo V).
Aos quatro (4d), seis (6d) e dez dias (10d) as orelhas de quatro animais de cada
grupo foram avaliadas clinicamente e, os mesmos foram eutanasiados para
histopatologia. A avaliação do efeito dos extratos vegetais na orelha hígida foi
realizada utilizando 48 ratos Wistar, os quais foram distribuídos em cinco grupos de
acordo com o tratamento, conforme descrito acima e classificados em escore clínico.
Na análise do microclima do canal auditivo observou-se que o pH variou de 5,0 a 8,0
e houve correlação negativa entre quantidade de cerúmen e pH (p=0,0271). Ainda, o
tipo de orelha não influenciou a TAM e predominaram orelhas no escore B
independente do tipo. Na avaliação do tratatmento da otite externa experimental os
grupos I, II e V aumentaram os escores aos quatro dias, em seguida decresceram.
Os grupos III e IV mantiveram os escores menores que o dia zero por quase todo o
período experimental. O grupo III apresentou diminuição progressiva, o II apresentou
o escore mais elevado aos quarto e seis dias e o grupo V aos 10 dias. Havia
hiperplasia em todos os grupos e no final do experimento, nos grupos II e IV em
maior freqüência. Todos os grupos tinham otite no início com predomínio de
infiltrado histiocitário, embora aos 10 dias com infiltrado supurativo nos grupos II, III
e V. Nas orelhas hígidas aos quatro dias, todos os grupos apresentaram aumento
dos escores clínicos sendo maior nos grupos I(2,6), II(3,6) e III(2,4), porém somente
o óleo essencial de alecrim 25% em propilenoglicol apresentou efeito irritante tópico. Houve uma diminuição progressiva dos escores nos grupos I, II e III a partir do dia
quatro e no dia 10 o maior escore foi observado nos grupos I (2,0) e II (2,0). Concluise
que o pH do canal auditivo de cães é neutro e pode acidificar com o aumeno da
quantidade de cerúmen; a temperatura auditiva média é menor que a retal
1,53°C±0,75 e a conformação da orelha não influencia na temperatura auditiva
média em cães; o extrato aquoso de Rosmarinus oficinalis L. 25% e o extrato
aquoso de Triticum vulgare 0,2% reduzem os escores clínicos, enquanto o óleo
essencial do Rosmarinus oficinalis L. 25% não é efetivo na otite externa não
infecciosa em ratos Wistar e, o extrato aquoso de R. officinalis L. 25% e o extrato
aquoso de T. vulgare 0,2% não são irritantes tópicos, enquanto que o óleo essencial
de R. officinalis L. 25% irrita o epitélio auditivo.

