Respostas biológica, sistêmica e reprodutiva de ratos Wistar alimentados com soja geneticamente modificada resistente ao glifosato
Resumo
A espécie vegetal geneticamente modificada mais cultivada no Brasil é a soja
[Glycine max (L.) Merr.] resistente ao herbicida sistêmico pós-emergente glifosato,
com 12,3 milhões de hectares cultivados. Essa soja foi obtida pela introdução do
gene correspondente à enzima 5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS,
E.C 2.5.1.19, CP4), enzima da via de chiquimato, resistente ao glifosato, mantendo
ativa a via biossintética de aminoácidos aromáticos. A modificação genética fez com
que parâmetros preconizados pela legislação brasileira fossem revistos e o limite
máximo permitido de glifosato nos grãos que era de 0,2 mg/kg aumentasse para 10
mg/kg. Embora o Brasil cultive há mais de dez anos a soja resistente ao glifosato e
seja o terceiro maior produtor mundial dessa leguminosa, com 50% da produção
nacional com genótipos transgênicos, poucos estudos têm sido conduzidos no país
com o intuito de avaliar, em ensaios biológicos, o impacto dessa tecnologia sobre o
meio ambiente, a qualidade e a segurança do alimento. Sendo assim, o presente
trabalho objetivou estudar a influência do consumo de grãos de soja geneticamente
modificada resistente ao glifosato (GMRR) isogênica à convencional e não isogênica,
tratada com este herbicida, sobre a qualidade nutricional, possíveis efeitos à
exposição crônica, bem como efeitos sobre a fertilidade e o desenvolvimento de
ratos Wistar e a possibilidade deste, desregular o sistema endócrino. A qualidade
nutricional foi avaliada através do valor protéico mediante índices biológicos, em 30
machos recém desmamados, distribuídos em cinco grupos, alimentados por 28 dias
com ração contendo 10% de proteína de soja GMRR não isogênica, soja GMRR da
isogênica, soja convencional, leite (caseína) ou por 10 dias com ração aproteica. O
ganho de massa corporal e o consumo alimentar das dietas não diferiu entre os
tratamentos. Esse mesmo comportamento foi observado no que concerne às
variáveis de crescimento e índices de balanço nitrogenado. Na exposição crônica de
40 machos e 39 fêmeas distribuídos em 4 grupos que consumiram dietas contendo
sojas GMRR (isogênica e não isogênica), soja convencional e grupo padrão sem soja,
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sinais de toxicidade sistêmica nos machos foram evidenciados na neutrofilia,
linfopenia do grupo que consumiu soja convencional em relação ao grupo padrão, e
na hiperplasia linfóide dos pulmões nos animais que consumiram soja GMRR e
convencional; sinais de toxicidade reprodutiva foram observados através do
aumento da massa relativa dos testículos e epidídimos e redução da concentração
espermática. Nas fêmeas, os efeitos no sistema reprodutivo foram evidenciados
através dos índices de fertilidade, e desmame. Estes resultados indicam que a
qualidade protéica da soja modificada geneticamente é preservada, porém há uma
associação de fatores que desencadeiam em uma provável desregulação endócrina.
Outros estudos são necessários para elucidar o mecanismo de interação que
provoca efeitos de toxicidade em machos e fêmeas alimentados com soja
convencional e GMRR que apresentam níveis detectáveis de glifosato.