Objeto, finalidade e instrumentos de trabalho dos enfermeiros em um hospital de ensino

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Data
2012-12-21Autor
Jacondino, Michelle Barboza
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Trata-se de um estudo que objetivou conhecer como os enfermeiros compreendem os elementos do processo de trabalho em um hospital de ensino de Pelotas/RS. Pesquisa de abordagem qualitativa, exploratória e descritiva, a qual utilizou o referencial teórico do processo de trabalho segundo a perspectiva marxista. Participaram desta investigação 14 enfermeiros de unidades de internação aberta distribuídos entre unidades de clínica médica, cirúrgica, pediátrica e ginecológica-obstétrica. Os dados utilizados fazem parte de um projeto de pesquisa intitulado Avaliação participativa do processo de trabalho da equipe de enfermagem do hospital escola de Pelotas/RS. As informações foram coletadas por meio de entrevista semiestruturada nos meses de janeiro e fevereiro de 2012 com os trabalhadores enfermeiros das unidades citadas, sendo os dados submetidos à análise temática conforme os passos operacionais de Minayo. Os resultados demonstram que no trabalho dos enfermeiros os elementos do processo (objeto, finalidade e instrumentos de trabalho) estão em constante articulação, de tal modo que um elemento encontra-se imbricado no outro no desenvolvimento da prática profissional. Os trabalhadores expressam uma perspectiva ampliada de objeto de trabalho, ao compreenderem o ser humano hospitalizado e sua família como objeto de intervenção no âmbito hospitalar. Do mesmo modo, também é possível fortalecer essa perspectiva, na medida em que existe uma compreensão incipiente do enfermeiro para este objeto de trabalho, pois vislumbram o ser humano pertencente a uma família inserido em determinado território, envolvido por condições socio-históricas. Ratificou-se o cuidado como finalidade do trabalho do enfermeiro, o qual traz sentido e fundamenta a ação deste trabalhador. Contudo, é possível perceber uma contradição nas falas, pois na medida em que enxergam o indivíduo situado num contexto social, conduzem o processo de trabalho ainda em prol da cura, revelando um cuidado com foco na doença, fortalecendo assim, o modelo hegemônico em saúde. As atividades administrativo-gerenciais foram anunciadas como predominantes no trabalho do enfermeiro, evidenciando a utilização majoritária de instrumentos gerenciais. Nesta pesquisa propõe-se olhar para o trabalho dos enfermeiros em uma só dimensão que é o cuidado, no qual o trabalhador é permeado por múltiplas atividades e faz uso de instrumentos diversos para operacionalizar a finalidade deste trabalho. As ferramentas de trabalho utilizadas pelos enfermeiros traduziram-se em conhecimentos aplicados para desempenhar a atividade profissional, sendo o uso de instrumentos gerenciais uma possível característica do trabalho de enfermeiros. As potencialidades do trabalho destacadas pelos enfermeiros foram a disponibilidade de recursos humanos e materiais, a qualificação profissional da equipe de enfermagem e a presença de estudantes de enfermagem. No que se refere a identificação de fragilidades apontou-se a não utilização da prescrição de enfermagem, inadequação de recursos materiais, espaço físico restrito, ausência de normas no hospital de ensino, condição de serviço público versus enquadramento funcional dos trabalhadores. Deste modo, o processo de trabalho do enfermeiro é dinâmico permeado continuamente por possibilidades de avanços e sucesso assim como abrange contradições, retrocessos e dificuldades. Por isso, a identificação de fragilidades e potencialidades pode ser um meio de avaliar continuamente o processo de produção de enfermeiros e vir a ser aplicado pelas gerências de instituições de saúde e de ensino em busca de adequações e transformações possíveis de serem modificadas, denunciadas pelos próprios trabalhadores.