Vivências de mulheres que consomem crack em Pelotas-RS
Resumo
O consumo de drogas entre as mulheres é crescente e influenciado por diferentes marcadores sociais. Assim, conhecer a relação entre gênero e uso de crack nos
permite identificar o padrão de consumo entre as mulheres e entender como ocorre sua socialização. Este estudo justifica-se porque as mulheres que consomem crack apresentam necessidades específicas e singulares que precisam ser reconhecidas pelos profissionais de saúde em sua prática de trabalho. Desse modo, teve-se como objetivo: Conhecer as vivências de mulheres que consomem crack. Trata-se de uma
pesquisa de abordagem qualitativa, exploratório-descritiva, a qual é um recorte da pesquisa perfil dos usuários de crack e padrões de uso financiada pelo CNPq. A coleta de dados foi realizada em janeiro de 2012, nos diferentes bairros de
Pelotas/RS, com 16 mulheres usuárias ou ex-usuárias de crack cadastradas na estratégia de redução de danos da cidade. As entrevistas semiestruturadas ocorreram no contexto social onde as mulheres viviam ou transitavam. A análise das
questões foi embasada na análise de conteúdo, na modalidade análise temática de Minayo. Os resultados evidenciaram um grupo de mulheres, em sua maioria, jovens, com baixo nível de escolaridade e renda, exercendo atividades ocupacionais
informais e com pelo menos 1 filho. Em relação ao padrão de uso de crack, o consumo de algumas usuárias era do tipo binge e interferia nas atividades diárias preexistentes, caracterizando a maioria das mulheres como usuárias abusivas de crack. Fugir da solidão, dos problemas e perdas, além da busca por prazer e felicidade foram alguns motivos identificados como responsáveis pela manutenção do consumo da droga. O padrão abusivo de crack e as baixas condições financeiras parecem ser responsáveis pelo envolvimento de algumas mulheres na prostituição e em práticas criminosas, como roubos e tráfico de drogas. Identificou-se uma rede de
solidariedade entre as pessoas que usam crack, formados a partir da constituição de vínculos de ajuda e alianças. Diversos eventos durante a infância das mulheres como o uso de álcool e outras drogas e a presença de violência física foram
identificados, explicitando a existência de relações familiares conturbadas antes do início do consumo de crack. A análise dos dados sob a perspectiva de relações gênero permitiu compreender que a mulher que consome crack se encontra
permeada por diversas categorias relacionais, que colocam a mulher em uma interação constante com diversos marcadores sociais capazes de produzir e transformar circunstâncias e experiências de acordo com as necessidades, interferindo assim no padrão de consumo de crack.