Tenda dos milagres em (dois) tempos de autoritarismo: as marcas da intolerância nas narrativas de Jorge Amado e Nelson Pereira dos Santos
Resumo
A presente dissertação analisa comparativamente o romance Tenda dos milagres, escrito por Jorge Amado em 1969, e a sua transposição fílmica, de mesmo título, realizada por Nelson Pereira dos Santos em 1977. Aborda relações entre o texto
literário e o texto fílmico, apresentando análise dos textos narrativos e relatando o resultado da revisão bibliográfica de suporte teórico-crítico e da consolidação do corpus literário e fílmico, considerados os respectivos contextos em que as obras foram criadas e em que circularam. O aporte teórico mobilizado para a efetivação da leitura crítica dos textos de ficção foi selecionado entre teorias literárias e fílmicas,
dentre elas as da intertextualidade, da transcriação, da adaptação e da metalinguagem, as quais possibilitaram a reflexão comparativa. Em um segundo momento, o texto apresenta a análise comparativa propriamente dita entre livro e filme, com base nos contextos históricos de sua elaboração e recepção, marcados pela intolerância e pela repressão cultural, religiosa, social, política e étnica, marcas de tempos de autoritarismo e violência institucionalizados durante o período da ditadura civil-militar brasileira pós-golpe de 1964. Nesse âmbito, a pesquisa analisa a hipótese que preside a investigação, centrada na ação do cineasta, o qual, por meio
da linguagem fílmica, manifesta leitura atualizadora para a obra literária, evidenciando o contexto de intolerância observado na história veiculada em livro, como também problematizando questões históricas, recorrentes na formação da sociedade e que sustentam o imaginário cultural brasileiro. É nesse quadro que a leitura contrastiva busca contribuir para os estudos da recepção crítica das duas obras, lidas em conjunto e sob o viés comparativo.