Traumatismo alveolodentário na dentição decídua: associação do grau de maturidade radicular no momento de injuria e sequelas após acompanhamento longitudinal retrospectivo.
Resumo
Este estudo teve como objetivo investigar a influência do grau de maturidade radicular dos dentes decíduos nas sequelas dos traumatismos alveolodentários, assim como investigar o momento que tais sequelas ocorrem. Para tal, foram conduzidos dois estudos longitudinais retrospectivos, os quais coletaram dados clínicos e radiográficos de registros de pacientes com traumatismo dentário em um ou mais incisivo central superior decíduo. No primeiro, sequelas como discoloração coronária, obliteração pulpar, e reabsorção inflamatória foram avaliadas em um período de 12-18 meses após o traumatismo, usando os registros de 150 pacientes que atenderam aos critérios de inclusão no estudo. No segundo estudo, foram avaliados apenas os casos de intrusão e subluxação. Sequelas clínicas e radiográficas como discoloração coronária, fistula, obliteração pulpar, reabsorção inflamatória e reabsorção interna foram avaliadas. Os dados referentes às sequelas foram distribuídos em oito intervalos de acompanhamento: 0--30 dias; 31-90 dias; 91-180 dias; 181-365 dias; 1 to 2 anos; 2 to 3 anos; 3 to 4 anos e > que 4 anos. Dos 150 pacientes incluídos no primeiro estudo, 118 (78.7%) apresentaram luxações e 32 (21.3%) tiveram fraturas dentárias. Imediatamente após o traumatismo, 13 dentes (9.2%) apresentavam raizes incompletas, 114 (80.3%) apresentavam ápices fechados e 15 (10.6%) tinham reabsorção radicular visível. Os resultados mostraram associação entre o grau de maturidade radicular dos dentes traumatizados e a ocorrência de obliteração pulpar (P = 0.023) assim como de reabsorção radicular inflamatória (P = 0.004). Houve ainda, associação entre o tipo de traumatismo e a ocorrência de discoloração coronária (P = 0.036) assim como do tipo de traumatismo e desenvolvimento de obliteração pulpar (P = 0.001). Com relação ao Segundo estudo, a amostra foi constituída de 99 casos de subluxação e 70 casos de intrusão. Dentre as sequelas, a discoloração coronária foi a mais prevalente. Considerando os dentes com subluxação, mais de 50% das reabsorções radiculares inflamatórias, e dos casos de discoloração coronária, fístula e obliteração pulpar ocorreram até 180 dias após o traumatismo. No entanto, as sequelas surgiram mesmo após períodos mais longos de acompanhamento. A maioria das sequelas de intrusão foram diagnosticadas nos períodos de 181-365 dias e 1-2 anos, mas continuaram surgindo mesmo no período de acompanhamento superior a 4 anos. Pode-se concluir que a ocorrência das sequelas de traumatismo na dentição decídua pode ser determinada pelo tipo de injuria, assim como pelo nível de maturidade radicular no momento do traumatismo. Além disso, nos casos de intrusão e subluxação, mesmo após acompanhamento superior a 3-4 anos, as sequelas continuaram sendo diagnosticadas.