Neoplasmas mamários e níveis de cálcio e magnésio em fêmeas caninas
Resumo
A longevidade dos cães tem aumentado a casuística de neoplasmas, sendo que o neoplasma mamário é um dos mais frequentes diagnosticados nesta espécie. As fêmeas caninas são importantes como população de estudo das neoplasias uma vez que existem similaridades entre os neoplasmas mamários desenvolvidos em humanos e caninos, possibilitando desta forma o uso da patologia comparada, buscando maior entendimento da doença. Alterações nos níveis de cálcio e
magnésio podem estar relacionadas a presença e ocorrência de neoplasmas mamários, porém não existe uma padronização definida dessas alterações. O trabalho teve como objetivos analisar dados epidemiológicos em pacientes caninos
com neoplasmas mamários e determinar níveis de cálcio e magnésio séricos e após exérese; e associar variação de níveis sanguíneos de cálcio e magnésio com a malignidade dos neoplasmas. O estudo teve uma amostra de 53 fêmeas caninas
com tumoração em glândula mamária, das quais foram obtidos dados de características descritivas da amostra referentes a resenha do animal, exposição a fatores de risco e do desenvolvimento tumoral, associado as características
morfológicas e localização anatômica. Foi realizada exérese das massas tumorais para análise histopatológica avaliando margem cirúrgica e classificando os pacientes segundo comportamento biológico e diferentes graus de malignidade: alta malignidade (AM), malignidade intermediária (MI), baixa malignidade (BM) e benignos (B). Na continuação do estudo, houve uma perda de 17 cães para o estudo de análise de níveis de minerais no período de 180 dias, sendo estudadas 36
fêmeas com neoplasmas mamários e 28 cães saudáveis sem tumores mamários, como controles. Os cães foram avaliados no dia zero (prévio à cirurgia) em relação à massa tumoral e nessa data foi realizada exérese para encaminhamento de peça tumoral para avaliação anatomopatológica e classificados segundo comportamento biológico. A dosagem sérica de cálcio e magnésio (espectrofotometria de absorbância), foi realizada prévia à exérese dos tumores (no dia zero) e aos 60 e
180 dias após o procedimento cirúrgico, no mesmo intervalo de tempo foram avaliadas as dosagens séricas dos minerais no grupo controle. Das 53 cadelas estudadas, 24 apresentavam tumores de alta malignidade, 12 de malignidade intermediária, 13 de baixa malignidade e quatro eram benignos. Os pacientes idosos foram frequentes no grupo de maior malignidade. Não houve relação entre comportamento biológico quando comparado com: faixa de idade, porte, raça, tempo de aparecimento e desenvolvimento ovariohisterectomia prévia e uso de contraceptivos. Quanto a localização, das 171 mamas acometidadas, o desenvolvimento de neoplasma de maior malignidade ocorreu em mamas inguinais e abdominais mediais. Foi demonstrado relação entre comprometimento de margem
e desenvolvimento de metástase pulmonar. A mobilidade e consistência neoplásica foram identificados como fatores prognósticos para cães com neoplasma mamário, enquanto as outras variáveis estudadas não foram relacionadas com o prognóstico. Dados referentes às 36 fêmeas caninas portadoras de neoplasmas mamários, que foram acompanhadas, 13 apresentaram tumores de alta malignidade (AM), nove de malignidade intermediária (MI), 10 de baixa malignidade (BM) e quatro benignos (B). A média dos níveis de Cálcio do grupo controle foi de 10,07mg/dl e do magnésio de
2,04mg/dl. Os níveis médios de cálcio sérico dos pacientes do grupo BM e MI foi respectivamente 8,63mg/dl e 8,77mg/dl, ambos diferindo estatisticamente (p< 0,001) do grupo controle. Os pacientes do grupo de AM apresentaram média de cálcio de 12,00mg/dl e diferiram significantemente (p< 0,001) dos níveis médios obtidos no grupo controle. Em relação aos níveis séricos de magnésio foi demonstrado diferença estatística entre o grupo controle (2,04mg/dl) e os grupos BM (p< 0,001), MI (p=0,002) e AM (p< 0,001), com médias de 1,57 mg/dl, 1,67mg/dl e 2,56mg/dl respectivamente. Tanto nos níveis séricos de cálcio quanto de magnésio não foram
demonstradas diferenças estatísticas entre o grupo controle e o grupo B. Foi observado que, nos animais com neoplasmas mamários, os valores sanguíneos dos minerais estudados diferiram entre a primeira e última coleta nos grupos BM
(p=0,0125) e AM (p=0,0,0087) quanto aos níveis de cálcio e nos mesmos grupos BM (p=0,0124) e AM (p=0,0015) quanto aos níveis de magnésio. Os resultados permitiram concluir que mobilidade e consistência do neoplasma, foram relacionadas
com malignidade e pior prognóstico do paciente além de uma forte relação entre comprometimento de margem e metástase pulmonar. Ainda, cães portadores de neoplasias de baixa malignidade e malignidade intermediária apresentam
hipocalcemia e hipomagnesemia, assim como nos casos de neoplasmas de alta malignidade ocorre hipercalcemia e hipermagnesemia, ambos retornando aos níveis
fisiológicos após seis meses da exérese cirúrgica.