Hábitos alimentares e cárie na primeira infância
Resumo
A ligação entre alto consumo de alimentos açucarados e uma dieta pouco saudável com ganho de peso e aumento do risco de doenças crônicas tem sido uma preocupação para muitos países do mundo. Dentre as doenças crônicas entre as crianças, a mais comum ainda é a cárie dentária. Os objetivos deste estudo foram:
1) avaliar a associação entre amamentação prolongada e cárie dentária em crianças durante o terceiro ano de vida e 2) avaliar se os hábitos alimentares maternos
durante a gestação podem influenciar a ingestão de sacarose dos seus filhos durante o segundo ano de vida. Este estudo retrospectivo foi constituído de díades
mães e filhos acompanhados por um Programa Público de Saúde Bucal Materno- Infantil da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, Brasil.
Informações sobre o status socioeconômico e demográfico, hábitos alimentares maternos, duração da amamentação e informações sobre higiene bucal da criança
foram coletados por meio de um questionário semi-estruturado. A frequência diária de sacarose da criança foi coletada a partir do questionário de frequência alimentar
entre 1 e 2 anos. A frequência diária de sacarose foi dicotomizada em = 7 vezes/dia e > 7 vezes/dia, e em <4 vezes/dia e =4 vezes/dia no artigo 1 e 2, respectivamente.
Para o artigo 1, cárie dentária (variável independente, dmfs=1) foi coletada durante o terceiro ano de vida. Foi realizada análise multivariada por meio de modelos de
regressão de Poisson com variância robusta para estimar a razão de prevalência (RP) e os intervalos de confiança de 95%. No artigo 1, um total de 255 crianças
foram incluídas na amostra. A prevalência de cárie dentária foi de 4,3%. Mesmo após ajuste (renda, início da higiene bucal e frequência do consumo de sacarose =7
vezes por dia) as crianças que foram amamentadas por um período = 24 meses foram mais propensas a ter maior prevalência de cárie dentária [(PR = 12,71;
IC95%:1,22-132,91)]. No artigo 2, um total de 204 díades mãe-filhos foram incluídas.
A prevalência do consumo de açúcar na idade de 2 anos foi de 100%. Uma ingestão elevada de sacarose (=4 vezes / dia) foi detectada em 90,69% das crianças. Após o ajuste, a probabilidade do resultado (ingestão de sacarose alta) foi quase 10% maior para as crianças cujas mães relataram bebida adoçada para satisfazer sua sede
durante a gravidez [RP = 1,09 (IC95%: 1,02-1,18)]. Esses dados sugerem que, nesta amostra, aleitamento materno prolongado foi associado com maior prevalência de
cárie dentária e os hábitos de consumo de açúcar materno podem ser um preditor para uma alta frequência de ingestão de sacarose pelos seus filhos no início da
primeira infância. Mais estudos que controlem por outros fatores confundidores pertinentes são necessários para melhor elucidar estas questões.
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