Prótese vocálica em sequência sC inicial por falantes brasileiros de francês L2
Resumo
O presente trabalho investigou como o fenômeno protético se manifesta no francês como língua não nativa, i. e. adicional (LA/L2/LE) por brasileiros falantes nativos do português brasileiro (PB) como única língua materna (L1). A prótese vocálica, observada no percurso histórico de diversas línguas, dentre elas o português, caracteriza-se pela inserção de vogal não etimológica em início de palavra (DUBOIS et al., 2002; VIARO, 2004). Estudos do inglês LA/L2/LE apontam que falantes PB-L1 realizam prótese quando se deparam com a sequência de sibilante com consoante em início de palavra (#sC), incomum no PB. A presente investigação foi realizada à luz dos Sistemas Adaptativos
Complexos (SAC) (LARSEN-FREEMAN, 1997; DE BOT ET AL., 2007; LARSENFREEMAN E CAMERON, 2008; ELLIS E LARSEN-FREEMAN, 2009). Genebra (Suíça) foi o locus da pesquisa e, para proceder à análise, 9 brasileiras (24-37 anos) compuseram o grupo experimental. Todas residem na cidade, são falantes do PB como única L1 e estão matriculadas em curso de francês LA/L2/LE.
A pesquisa contou igualmente com um grupo-controle, composto por 2 genebrinas nativas falantes do francês como única L1 (22-57 anos). Usando pressupostos da Fonologia Gestual (BROWMAN e GOLDSTEIN, 1988, 1989, 1992; ALBANO, 1990, 2001), foram analisados acusticamente via freeware Praat os dados coletados a partir da leitura de frases-veículo realizada pelas informantes dos 2 grupos. Buscou-se averiguar o papel das seguintes variáveis linguísticas e “extralinguísticas” na produção protética do grupo experimental: contextos precedente e seguinte à sibilante, frequência de ocorrência, ordem de leitura, nível de proficiência e tempo de residência em Genebra. Os resultados mostram que 34.8% das leituras (451 de 1296 frases lidas) apresentam prótese cuja qualidade das vogais produzidas aponta formas híbridas: média-alta anterior, observado no PB, porém com arredondamento bilabial parcial, recorrente no francês. Os dados apresentam relevância estatística de p<0.001 nos quesitos contexto precedente, frequência de uso, tempo de residência, nível de proficiência, hábito linguístico diário; e p=0.047 na ordem de leitura. Os resultados apontam que 5 variáveis têm relevância na produtividade do fenômeno protético: (i) estudantes nível B1 segundo o Quadro Europeu, (ii) informantes com até 12 meses de residência em Genebra, (iii) palavras-alvo de média frequência de
ocorrência, (iv) contexto precedente vozeado e (v) a 1a produção da leitura tríplice. Os resultados sugerem que o repertório fonológico das informantes parece não refletir fielmente a L1. Reitera-se, portanto, que fatores linguísticos e “extralinguísticos” atuam dinamicamente no desenvolvimento de LA/L2/LE, corroborando a imprevisibilidade e a não linearidade da linguagem postuladas pelo paradigma da complexidade.
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