Os movimentos de participação construídos por e entre bebês e crianças maiores em uma turma de berçário.
Resumo
Esta tese trata de uma pesquisa de inspiração etnográfica com bebês realizada em uma turma de berçário da Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo em Santa Maria/RS, com 10 bebês de 1 ano e 2 meses a 2 anos e 4 meses (agosto de 2017) e consiste na defesa de que os movimentos de participação dos bebês no cotidiano da escola infantil carregam consigo traços das culturas infantis, e são oportunidades de modificar a prática educativa. O objetivo geral foi analisar como os bebês vivenciam os movimentos de participação construídos por e entre eles e com as crianças maiores em uma turma de berçário, na escola infantil. Considerando que movimentos de participação dos bebês podem estar ou não relacionados a duas dimensões, isto é, as relações entre bebês, dos bebês com outras crianças ou bebês com os adultos (profissionais da escola infantil, famílias e demais pessoas que a frequentam ou visitam) e a organização da escola infantil, traçou-se como objetivos específicos: analisar como vem sendo entendida/discutida a questão de participação dos bebês nas pesquisas acadêmicas; analisar os movimentos de participação dos bebês entre si, com as crianças maiores e com adultos; identificar quais são os limites da participação dos bebês na organização da escola infantil e refletir sobre o que acontece com os movimentos de participação iniciados pelos bebês no cotidiano da escola infantil. Os dados foram gerados a partir da observação, registros em imagem e notas de campo que, ao serem trabalhadas, constituíram o Diário Descritivo Narrativo contendo as imagens, as descrições e narrações do que havia sido vivido com os bebês em cada dia de observação. Os dados contidos no Diário foram submetidos a um processo de análise interpretativa (GRAUE; WALSH, 2003) a partir da qual foram sendo construídas as dimensões de análise relacionadas às brincadeiras, ao acolhimento e às mudanças nas práticas educativas. A metáfora da teia global sobre a cultura de pares (CORSARO, 2011) serviu de inspiração para visualizar os movimentos de participação dos bebês e os atravessamentos sofridos por elementos da vida cotidiana, práticas educativas e pelas questões de direito. Os aspectos teóricos do campo dos Estudos da Infância e da Criança, principalmente as contribuições da Sociologia da Infância, Antropologia da Criança e Psicologia Cultural, além de autores da História da Infância e da Educação articulam-se e relacionam-se na composição de referências necessárias e importantes para se pensar o tema da participação dos bebês na escola infantil. Por meio das análises, foi possível perceber que, do ponto de vista das pesquisas acadêmicas, é necessário ampliar os estudos na área da educação, tendo o ponto de vista das crianças sobre os aspectos investigados especialmente quando nos referimos aos bebês, uma vez que, por estarem as instituições infantis, merecem ter a suas vozes ouvidas. Do ponto de vista do vivido com os bebês, os movimentos de participação construídos nas relações diárias dos bebês entre si, com as crianças maiores e também com os adultos são vivenciados de maneiras distintas e peculiares por cada um deles, apresentando traços das culturas infantis e sofrendo atravessamentos de diferentes ordens que ora limitam e ora possibilitam tais
movimentos. Portanto, foi possível identificar que a maneira como os espaços de brincadeira são organizados e o modo como as adultas interferem nas ações dos bebês são fatores que podem limitar ou possibilitar a participação deles no cotidiano da escola infantil. A partir disso, acontece que os bebês, de uma maneira ou de outra, participam de inúmeras situações no cotidiano da escola infantil, modificando a prática educativa e proporcionando desafios acerca de construir uma nova cultura adulta, capaz de observar, compreender e apreender seus modos de participação.
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