Por uma infância simbólico-cultural: um grupo macrossocial como testemunha simbólica de uma época.
Resumo
Esta pesquisa insere-se no Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Imaginário,
Educação e Memória (GEPIEM) e, por isso, numa proposta de hermenêutica
simbólica instauradora e amplificadora. Tem por objetivo investigar as imagens das
capas de cadernos de crianças da educação infantil até a terceira série/ano do
ensino fundamental, de 1991 a 2010. Os cadernos pesquisados fazem parte do
acervo de cadernos do grupo de pesquisa História da Alfabetização, Leitura, Escrita
e dos Livros Escolares (HISALES). Para desenvolver a pesquisa, traçou-se a
seguinte problematização: O que emerge nas imagens das capas de cadernos de
crianças da educação infantil até a terceira série/ano do ensino fundamental do
Sudeste do Rio Grande do Sul entre a última década do século XX e primeira
década do século XXI? Para responder este questionamento e dar conta do objetivo
proposto, elencou-se como teoria mestra os Estudos do Imaginário desenvolvidos
por Gilbert Durand, em diálogo com outras perspectivas teóricas, como a história e a
sociologia. Metodologicamente, adotou-se a mitanálise durandiana para desenvolver
a investigação, considerando que esta é uma metodologia que se aplica à
macroanálise de um contexto social sob o prisma do imaginário. A tese defendida é
a de uma Infância Simbólico-cultural, na qual artefato das culturas da infância
permitiu analisar o simbolismo presente na infância da época eleita. O artefato que
aqui se refere são as capas de cadernos, caracterizados enquanto artefatos
simbólicos repleto de projeções imaginárias. Dessa forma, se a criança é uma
testemunha da história, a infância, nessa perspectiva, é testemunha simbólica de
determinada época. Mais ainda, a ideia de infância transcendental se materializa,
pois ela foge ao tempo comum e se perpetua, mantendo-se e renovando-se, sem
findar sua existência, da mesma forma como o imaginário que preconiza os Estudos
do Imaginário de Gilbert Durand. É possível afirmar, então, que os cadernos se
constituem enquanto artefatos das culturas da infância que refletem o trajeto
antropológico preconizado pelo autor-guia deste estudo. Isso porque os símbolos
que surgem nas imagens das capas de cadernos carregam consigo as intimações
objetivas e subjetivas que emanam do meio social, o que permitiu vislumbrar o
trajeto simbólico-cultural da infância na época pesquisada, configurando as
seguintes pregnâncias simbólico-culturais: infância natural e anímica; infância
adultizada; infância nas profundezas; infância e interação social; infância em
equilíbrio; e infância unificadora. Defende-se que a Infância Simbólico-cultural une
os dinamismos e polaridades simbólicas, apresentando a infância, a partir das
pregnâncias emergidas das constelações simbólicas, como: a estrutura simbólica e
social de uma sociedade, que parece revelar um período do inconsciente humano,
como resiliente, como onírica, como representação do mundo adulto, como
interacionista, como mediadora e equilibradora de uma sociedade. Isso significa
dizer que a infância da virada do milênio (décadas de 1990 e 2000) traz consigo a
potência simbólica que permite enxergar uma sociedade refratada, problematizada
por crianças, que desafiam o ser adulto. O trajeto antropológico da infância,
portanto, é caracterizado pela relação simbólica e cultural que o meio permite, nesse
caso sendo a capa dos cadernos um artefato que visibiliza esse trajeto.
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