O sentido antropológico de dons e dádivas entre grupos de usuários de crack e outras drogas.
Resumen
Os usuários de crack são comumente marginalizados e apontados como sem valor,
com tendência a serem excluídos do convívio social, fato que leva esta população
criar grupos para consumir a droga, formando as populares cracolândias. O estudo
objetivou conhecer o sentido antropológico de dons e dádivas entre grupos de
usuários de crack e outras drogas dentro das cenas de uso. Consiste em um estudo
qualitativo com abordagem etnográfica que utilizou como referencial teórico a teoria
dos dons e dádivas do sociólogo Marcel Mauss. Foi desenvolvido no Município de
Pelotas no período de dezembro de 2012 a julho de 2013, possuindo como método
de coleta de dados a observação participante, diálogo e registro em diário de campo.
As observações foram realizadas em grupos de usuários de crack e outras drogas
formados em locais públicos e privados do município. Os participantes do estudo
foram pessoas que faziam o uso de crack e outras drogas no cenário de uso de
drogas, havendo uma aproximação maior com 13 pessoas ao longo do estudo. A
análise dos dados apresenta-se embasada no Interpretativismo de Clifford Geertz.
Esta etnografia desvelou que os usuários de crack possuem diferentes formas de
viver, de se adaptar e de se organizar como grupo. As cenas de uso criadas por esta
população não são configuradas apenas como local único e exclusivo de consumo
de drogas, elas também servem como abrigo e ponto de encontro entre pessoas. Os
usuários inseridos nesses grupos mostram-se contrários às imagens vendidas nos
grandes veículos de comunicação, havendo entre eles uma rede de solidariedade
que resulta em um trabalho coletivo na tentativa de amenizar as adversidades
encontradas nas ruas. Alguns denominam-se livres e nômades, sem vínculos a
grupos. No entanto, de diferentes formas estão quase sempre próximos, prezando
pela saúde e relações de ajuda e solidariedade. Os usuários de crack, na falta ou
escassez, dividem e compartilham droga, roupas ou comida, na incerteza do retorno
do bem. Dessa forma acredita-se que a teoria do dom permeia imensamente as
relações no presente; no momento em que estão no grupo, mostram-se solidários
em certas situações, lutam para vencer o estigma e o preconceito, dividem e doam a
pedra, quando necessário, sem a certeza do retorno, organizam-se e buscam ajudar
no cuidado da saúde dos mais debilitados. No entanto, as mudanças só começarão
a aparecer no contexto destas pessoas, no momento em que as políticas de atenção
e assistência que envolvem esta população passarem a ser prioridade dos nossos
gestores.
Colecciones
El ítem tiene asociados los siguientes ficheros de licencia: