Representações sociais sobre a violência contra a criança para mulheres que a praticaram.
Resumo
A violência contra as crianças acompanha a história da humanidade, embora tenha
se constituído como um fenômeno privado da vida familiar. A criança foi considerada
por muito tempo um objeto de ação do mundo adulto, não sendo reconhecida como
um ser político e possuidor de direitos. Além disso, a compreensão equivocada do
pátrio poder tem contribuído para instalação e manutenção dos maus-tratos infantis.
O crescimento e desenvolvimento da criança estão intimamente relacionados à
qualidade do meio ambiente em que ela vive. É fato que a violência contra a criança
é um fenômeno complexo associado a muitos fatores, como as representações de
infância, de violência e de relação entre pais e filhos, as quais foram construídas
historicamente e estão estreitamente ligadas ao contexto sociocultural dos sujeitos.
Assim, este estudo objetivou compreender as representações sociais sobre a
violência contra a criança na visão de mulheres que a praticaram. Trata-se de um
estudo qualitativo e exploratório. Fizeram parte desta pesquisa cinco mulheres que
praticaram algum tipo de violência contra a criança e que estavam em
acompanhamento psicoterápico em uma instituição de atendimento às famílias em
situação de violência em um município do sul do Rio Grande do Sul. Os dados foram
coletados no período de julho e agosto de 2013, por meio de entrevista
semiestruturada e com a construção de Genograma. Por meio da Análise Textual
Discursiva e do referencial teórico da Teoria das Representações Sociais foram
construídas seis categorias, descritas a seguir. (Des)aprendendo a se relacionar:
evidenciou que as mulheres sofreram violência na infância, apontando que vivências
violentas na infância podem ser compreendidas como normais, propiciando
reprodução nas relações futuras. O discurso sobre papel materno: as mulheres
expressaram representações do ser mãe coerentes com aquelas socialmente
esperadas dos pais frente à criação dos filhos, entretanto o discurso não se afina
com as práticas das participantes, uma vez que elas expressaram dificuldades em
cuidar e proteger seus filhos. A violência como recurso nas práticas educativas: as
mulheres relataram o uso de práticas educativas coercitivas justificando-as pela
intenção educativa que guiava a atitude agressiva. Parentalidade sustentada pelo
poder: as mulheres evidenciaram dificuldades em exercer uma parentalidade
positiva, trazendo com elas a representação da criança como um ser inferior e
submisso ao mundo do adulto. A violência no descontrole emocional: elas
expressaram a violência contra a criança como um ato praticado e justificado pelo
descontrole emocional. A compreensão da violência e a tentativa de ruptura: na
representação da violência contra a criança as modalidades básicas de violência
emergiram e as mulheres expressaram aparente tentativa de ruptura do circulo da
violência que não se concretizava no seu cotidiano de vida. Conclui-se que as
representações sociais sobre a violência contra a criança estavam ancoradas em
aspectos históricos atrelados aos significados atribuídos à criança e infância e às
vivências individuais das mulheres deste estudo. Assim, a enfermagem pode
contribuir para desconstrução dessa chaga da infância na medida em que atua nos
diversos cenários de atenção à saúde o que possibilita assistência às famílias nos
três níveis de atenção.
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