Do mal-estar à readaptação: o que causa o adoecimento e o afastamento da função docente.
Resumo
A educação tem sofrido grandes mudanças nas últimasdécadas, as quais têm
afetado o trabalho docente com novas formas de avaliação e controle, bem como
têm exigido o domínio de novas tecnologias. Desta forma, as relações humanas e as
capacidades psicofísicas dos docentes foram atingidas, produzindo neles um grande
esforço para cumprir com suas funções, levando muitos profissionais ao mal-estar e
ao adoecimento. A pesquisa emerge da experiência docente da sua autora, tendo
sido desenvolvida com professores readaptados da rede pública estadual de ensino
do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Toledo (PR). São denominados de
readaptados os docentes com limites físicos ou psíquicos, afastados pela perícia
médica de suas funções laborais para ocupar outras funções compatíveis com sua
capacidade física e/ou psíquica. Sete docentes participaram da pesquisa, dos quais
6 mulheres e 1 homem, com idade entre 44 e 62 anos.Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas e notas de campo foram tomadas, o que caracteriza o estudo
como uma pesquisa qualitativa. O objetivo geral foiidentificar os professores em
situação de readaptação nas escolas do NRE de Toledo (PR) e os elementos que,
segundo eles, conduzem o professorado ao adoecimento e à readaptação. De forma
mais específica, o estudo propôs-se a analisar: quais as representações que os
professores readaptados têm de si e do seu trabalho; quais as razões que, no
trabalho docente, conduzem o professorado ao processo de adoecimento e à
readaptação; e se há diferenças de gênero nos processos pelos quais professores
(homens) e professoras (mulheres) são readaptados. As discussões teóricas têm
sua fundamentação, entre outros autores, em: Esteve(1999; 1995), abordando o
mal-estar docente, e Codo (1999), tratando da síndrome de burnout,com
contribuições na análise dos sentimentos de insegurança, medo, estresse e dos
desgastes que estes profissionais enfrentam, causando sofrimento e absenteísmo. A
pesquisa revela uma representação da docência como vocação, marcada pelo
saudosismo de professores que julgam ter tido autoridade, reconhecimento e
respeito dos alunos, e hoje, porém, sofrem com as perdas desses valores. Os
mesmos apresentam dificuldade de definir a própria profissão e reconhecer a
docência como trabalho. Uma profissão predominantemente feminina, carregada
com atributos associados à maternidade, embora até mesmo entre as entrevistadas
poucas percebam influências do gênero na docência. A escola, além de ser um lugar
de produzir conhecimento, estaria sendo desviada deseus objetivos para outras
funções como cuidados, atenção, carinho, aconselhamento, suprindo necessidades
que as famílias na atualidade não dão conta de atender. Conclui-se que o mal-estar
apresenta-se como um fenômeno da atualidade, afetando homens e mulheres nas
mais diversas profissões, entre elas a docência. Sua manifestação dá-se no
desgaste físico e psíquico dos sujeitos em seu trabalho relacional intenso e
constante, podendo levar ao adoecimento e, em vários casos, à readaptação.
Relações de trabalho conflituosas, sofrimento e dores causadas pelas doenças em
consequência dos vários anos de atividade profissional podem ser fatores
desencadeantes da readaptação. Entende-se que o mal-estar e a síndrome de burnoutsó serão vencidos pelos docentes quando os mesmos aprenderem a usar
estratégias de enfrentamento que os ajudem a lidar com as condições de estresse
no trabalho. Além do mais, são necessárias políticas públicas que garantam
melhores condições de trabalho e saúde, a fim de que o professorado possa exercer
a docência com prazer.
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