Atafona e Moinho Henkel. Nova Hartz. RS: estudo sobre o patrimônio material e imaterial
Abstract
No sul do continente americano, há milhares de anos, os povos da floresta Tropical cultivam a mandioca brava e, a partir dela, produzem a farinha e outros derivados, alimentos
essenciais da sua dieta. Em Nova Hartz, na região do vale do rio dos Sinos, antes da indústria calçadista assumir papel de destaque na economia, a produção de farinha de mandioca era a principal atividade econômica. As chamadas atafonas produziam farinha para ser comercializada dentro e fora do Brasil. Contribuíram com o desenvolvimento econômico da
Colônia Alemã de São Leopoldo e também do Rio Grande do Sul. Hoje, estas agroindústrias familiares estão em vias de desaparecimento tanto em Nova Hartz como na região. É nesse contexto que se inserem a atafona e o moinho da família Henkel. Esta atafona, diferentemente das demais, chegou ao século XXI produzindo farinha de mandioca, principal fonte de renda da família. O moinho, por sua vez, teve suas atividades encerradas na segunda metade do
século XX. Inicialmente, no moinho era produzida a farinha de milho para o consumo da família que também vendia o serviço de moagem do milho aos agricultores vizinhos. Posteriormente, no período em que a atafona produziu raspa de mandioca para ser misturada à farinha de trigo, ele foi utilizado para moê-la e encerrou suas atividades descascando arroz. Esses espaços de trabalho, as duas residências da família, a cozinha e sala de refeições, o sistema de geração de energia formado por barragem, canal e rodas d água, as técnicas de cultivo da mandioca, o modo e o maquinário para produzir a farinha são os testemunhos materiais e imateriais de parte da história local e regional. Esta pesquisa tem o objetivo de, através do estudo deste patrimônio, atribuir ao sítio histórico da Atafona e Moinho Henkel valores que contribuam com o seu reconhecimento e preservação. Estes valores também
poderão servir de base para projetos de reutilização do sítio histórico que colaborem na sua manutenção. A partir da classificação do conjunto destes bens como patrimônio industrial, realizada com base na Carta de Nizhny Tagil, elaborada pela Comissão Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial TICCIH este trabalho foi estruturado de forma a poder explicitar os seus principais valores. Através de vários autores com formações variadas, do trabalho com documentação oral, escrita e iconográfica e dos levantamentos de campo com registros fotográficos, foram reunidas a história e a memória, a arte, a arquitetura, a
arqueologia, a antropologia, a agronomia, a economia dentre outras disciplinas.