Paternidade na adolescência no contexto dos serviços de saúde, escola e comunidade: uma perspectiva bioecológica
Resumo
A paternidade na adolescência significa vivenciar um processo de transformações e (re)construções, em busca de identidade para este homem ainda adolescente, bem como para sua família. Nesse contexto, a paternidade é considerada um papel social e o seu desenvolvimento acontece através das interações estabelecidas entre os indivíduos e o ambiente. As interações são peças fundamentais por meio das quais
as pessoas interferem no comportamento umas das outras, tornando-se possível o desenvolvimento humano. Este estudo justifica-se na busca por preencher a lacuna teórica sobre o tema, visto que há uma escassez de dados que descrevam os
corresponsáveis pela gravidez na adolescência e por contribuir para modificar interações estabelecidas por parte dos professores e dos profissionais de saúde, que, muitas vezes, não conseguem abordar de forma integral e cidadã o pai
adolescente. Assim, teve-se como objetivo: conhecer a percepção do pai adolescente quanto à sua interação com o serviço de saúde, a escola e a comunidade. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, exploratório descritiva,
derivado da pesquisa multicêntrica intitulada Redes Sociais de Apoio à Paternidade na Adolescência. A coleta de dados foi realizada no período de junho de 2009 a junho de 2010, na cidade de Pelotas/RS. Foram respondentes 14 pais
adolescentes, selecionados por indicação de puérperas adolescentes. As entrevistas semiestruturadas ocorreram no domicílio dos sujeitos seis meses após o nascimento
do(a) filho(a). Por meio da Análise Textual Discursiva e o referencial teórico de Urie Bronfenbrenner, foram construídas três categorias. Interação entre a paternidade e a escola: evidenciou que os pais adolescentes valorizavam a educação formal, por proporcionar maiores subsídios para a criação de seus filhos e melhores condições de vida para sua família, reconhecendo também as dificuldades de conciliar trabalho, estudo e o cuidado do filho, e, mesmo os que não estavam frequentando a escola por motivos do trabalho, almejavam voltar à sala de aula, local no qual referiram terem passado grande parte de suas vidas. Em Interação paterna
estabelecida com os serviços de saúde: a maioria dos pais adolescentes mostrou estar extremamente comprometida com os cuidados de saúde de seus filhos junto à Unidade Básica de Saúde, alegando acompanhar expressivamente as consultas de
rotina, com disposição para entender os cuidados orientados e discutir estratégias saudáveis a serem adquiridas, de maneira autônoma e independente, mesmo referindo que, em alguns momentos, eram impossibilitados de acompanhar as consultas devido ao trabalho. Na categoria Interações paternas vivenciadas na comunidade: alguns sujeitos relataram continuar com suas atividades de lazer, como jogar futebol, frequentar escola de samba, apesar de outros alegarem sentirem-se excluídos pelos amigos e encontrarem dificuldades de aceitação da comunidade. É possível concluir que os pais adolescentes se mostraram receptivos aos estudos formais, presentes e participativos nos serviços de saúde e comunidade. Dessa forma, dificuldades de interação com a escola, serviços de saúde e comunidade parecem não decorrer da inserção do adolescente nos ambientes estudados, mas
da sua organização e preparo adequado para o acolhimento desses adolescentes.

