E non dite che dipingeva come un uomo: história e linguagem pictórica de Artemísia Lomi Gentileschi entre as décadas de 1610 e 1620 em Roma e Florença
Abstract
A presente pesquisa tem como objetivo principal entender a complexa relação
entre a vida e a obra de Artemísia [Lomi] Gentileschi (1593-1654). O estudo
privilegia os primeiros tempos de atuação da jovem pintora, principalmente em
Roma e Florença. Selecionamos dois principais tipos de fontes para fazer este
trabalho, escritas e imagéticas. A análise das imagens foi realizada ao mesmo
tempo em que estudamos os interrogatórios do processo c rime Stupri et lenocinij Pro
Curia et Fisco, em que Agostino Tassi é acusado de desvirginar forçadamente
Artemísia, durante o ano de 1611. Realizamos uma investigação atrelada às
discussões de gênero, pois entendemos que o feminino e o masculino são
construídos pela cultura e que as identidades subjetivas de homens e mulheres
possuem origens sociais, as quais se relacionam de forma complexa e tensa.
(SCOTT, 1990). Destacamos que a presente pesquisa é norteada pelo método de
redução de escala na análise historiográfica, empregada por Michel Foucault (1991)
e também muito trabalhada nos estudos de Carlo Ginzburg (2006). Sobre a análise
das imagens, nos filiamos à metodologia de Luigi Pareyson (1997). Segundo o autor,
[...] a obra reimerge na história: longe de reduzir-se a um simples momento do fluxo
temporal, é capaz de, ela própria, produzir história [...] . (PAREYSON, 1997, p. 133).
Mesmo silenciada por uma historiografia androcêntrica, Artemísia pintou figuras
humanas que superam não só o pai, mas muitos outros artistas de seu tempo. O
desvirginamento forçado, os exames ginecológicos, a tortura, o casamento arranjado
entre um homem endividado e seu pai, os percalços de uma mulher que anseia a
inserção no mundo masculinizado das artes são questões importantes da vida de
Artemísia e da conjuntura analisada pela pesquisa. Artemísia construiu uma
linguagem anticonformista do ponto figurativo e estilístico, pintou na maioria de suas
obras a intensidade de uma rede de poder patriarcal que a artista percebia em seu
cotidiano