Ação do tipo antidepressiva do composto 2-fenil-3-(fenilselanil)benzofurano em camundongos: evidências sobre o envolvimento de mecanismos serotoninérgicos e de propriedades antioxidantes
Resumo
A depressão é o transtorno psiquiátrico mais grave e debilitante, porém os antidepressivos atualmente disponíveis apresentam limitações clínicas. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a ação do tipo antidepressiva do composto 2-fenil 3-(fenilselanil)benzofurano (SeBZF) e investigar a contribuição do sistema serotoninérgico e de propriedades antioxidantes nesta ação em camundongos machos. Inicialmente, compostos da classe 3-organoselenil benzofuranos foram testados no ensaio de lipoperoxidação em cérebro de camundongos, e o SeBZF foi selecionado por apresentar o melhor perfil antioxidante. A partir de curvas de tempo e dose-resposta em camundongos, foi constatado que o SeBZF, administrado por via intragástrica, apresenta efeitos anti-imobilidade a partir de 50 mg/kg no teste do nado forçado (TNF; 30 min de pré-tratamento) e a partir de 5 mg/kg no teste de suspensão pela cauda (TSC; 30 e 60 min). Ademais, o SeBZF não causou alterações da atividade locomotora dos animais. Posteriormente, foi estudada a contribuição de mecanismos serotoninérgicos na ação do tipo antidepressiva do SeBZF no TSC através da administração de SeBZF (50 mg/kg) a camundongos pré-tratados com diferentes antagonistas de receptores deste sistema: WAY100635 (0,1 mg/kg, via subcutânea; antagonista do receptor 5-HT1A), cetanserina (1 mg/kg, via intraperitoneal, i.p.; antagonista 5-HT2A/2C) e ondansetron (1 mg/kg, i.p.; antagonista 5-HT3). A administração de WAY100635 e cetanserina bloqueou a ação do tipo antidepressiva do SeBZF, sugerindo que seu mecanismo de ação pode estar relacionado à
modulação dos receptores 5-HT1A e 5-HT2A/2C. A interação com o sistema serotoninérgico também foi avaliada através da co-administração de doses sub-efetivas de SeBZF (1 mg/kg) e fluoxetina (5 mg/kg), sendo verificado que este tratamento conjunto produziu um significativo efeito anti-imobilidade no TSC. Além disso, SeBZF (50 mg/kg) não afetou a atividade da enzima monoamina oxidase-A em hipocampo. Uma avaliação complementar foi realizada com a administração de para clorofenilalanina (pCPA; 100 mg/kg, i.p.), um inibidor da enzima triptofano hidroxilase, que participa da biossíntese de serotonina. Para isso, os animais foram tratados com pCPA durante quatro dias consecutivos, e 24h após o último tratamento receberam SeBZF (50 mg/kg). O hipocampo foi removido para análises bioquímicas, as quais incluiram parâmetros de estresse oxidativo e a atividade das enzimas acetilcolinesterase (AChE) e Na+/K+-ATPase. A administração de pCPA aboliu a ação do tipo antidepressiva do SeBZF no TSC, aumentou os níveis de TBARS e a atividade da catalase bem como reduziu o conteúdo tiólico total e a atividade da Na+/K+-ATPase. O tratamento com SeBZF protegeu contra o estresse oxidativo em hipocampo induzido por pCPA e demonstrou uma tendência em recuperar a atividade da Na+ /K+-ATPase. A atividade da AchE não foi alterada pelos tratamentos com pCPA e/ou SeBZF. A toxicidade do SeBZF foi avaliada através de sua administração na dose de 300 mg/kg (i.g.) a camundongos Swiss fêmeas. Quatorze dias após, foi realizada a coleta de sangue para realização de provas de função hepática e renal e remoção do fígado para determinação dos níveis de TBARS. Não houveram alterações nos parâmetros bioquímicos avaliados, apontando para um baixo potencial de toxicidade do SeBZF.