Fenômenos memorialísticos online: cartografia da memória compartilhada da covid-19 no Instagram
Resumo
A tese: “Fenômenos Memorialísticos Online: cartografia da memória compartilhada da covid-19 no Instagram”, aborda a pandemia de covid-19 como um trauma cultural e explora a forma como as mídias sociais, em particular o Instagram, têm servido como espaços de compartilhamento e arquivamento memorial, agenciadores da construção do patrimônio incômodo sobre a covid-19. O objetivo geral da investigação foi descrever o processo de memorialização da covid-19 através da cartografia da memória traumática compartilhada na plataforma Instagram pelo período de janeiro de 2020 a agosto de 2023. Partiu das hipóteses de que (a) a memorialização da covid19 no ciberespaço é atualizada pela potência interativa das interfaces digitais e, consiste, ao mesmo tempo, em uma apropriação criativa, tática e coletiva das plataformas online; b) os fenômenos memorialísticos online sobre a covid-19 estão fundados na “fenomenologia do museu” e, no contexto brasileiro, convertem-se em suportes potentes para a elaboração do luto e reconhecimento do trauma cultural, instrumentos fundamentais para a construção de uma política de memória sobre a covid-19 no país. Em relação aos procedimentos metodológicos, esta investigação partiu de uma abordagem qualitativa-quantitativa, considerando os aspectos numéricos inerentes ao território digital. Através da cartografia com traços da etnografia foi possível habitar-intervir no campo de pesquisa a fim de construir um objeto. Por meio de uma perspectiva afetiva, foi realizada uma cartografia da memória compartilhada da covid-19 no Instagram, que identificou o espaço, as conexões e os afetos emergentes das vivências atípicas da pandemia no Brasil e no mundo. Com ênfase na realidade brasileira, foi possível concluir que as narrativas testemunhais e seu arquivamento fornecem uma visão única sobre a realidade pandêmica brasileira. Fragmentada e controversa, as performances memoriais no Instagram evidenciam novas formas de lembrar, silenciar e esquecer no tempo das plataformas online. Ao mesmo tempo, a arte e a literatura, nos fenômenos cartografados, criaram oportunidades de encontro e reconexão com o sensível da sobrevivência em meio ao caos. Finalmente, concluo que cabe a nós pesquisadoras(es) em Ciências Sociais e Humanas, na ausência de terapia para o trauma coletivo, empregar um trabalho de escrita e de memória, reintroduzindo aquilo que não pode ser recusado ou recalcado no presente, o patrimônio incômodo da pandemia. Assim, defendo uma ética museal e da memória que esteja a serviço da elaboração de uma política para as memórias da covid-19 no Brasil.