O cancelamento da Queermuseu: Porto Alegre/RS, 10 de setembro de 2017
Resumo
A presente pesquisa consiste na análise do cancelamento da mostra “Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira”, ocorrido em 10 de setembro de 2017, na cidade de Porto Alegre/RS, com objetivo de identificar os aspectos que caracterizam esse fenômeno particular da história recente brasileira. Inaugurada em agosto daquele ano, algumas de suas obras foram utilizadas como motivação para dar início a um novo repertório de confrontos de escala nacional ao antagonizar a pauta sobre a livre expressão sexual e de gênero e a pauta de costumes. Na ocasião, após uma massiva campanha de difamação, envolvendo novas estratégias digitais de mobilização popular, especialmente através das redes sociais, o Santander Cultural, instituição que havia acolhido e patrocinado a exposição, resolveu cancelá-la. O episódio ficou marcado pelos aspectos de censura envolvendo a Queermuseu, a ausência de medidas protetivas oferecidas pelo Estado, o despreparo em torno da arte, os usos políticos do passado, o recrudescimento do preconceito envolvendo sexualidade, gênero e corpos desviantes, bem como a congregação de forças conservadoras e reacionárias que agiram em conjunto, mais tarde, na eleição de Bolsonaro, em 2018. Há inclusas quatro definições necessárias para a sua compreensão, bem como o contexto no qual surgiu a problematização abordada: a inserção e familiaridade do pesquisador com o tema proposto, as fontes disponíveis, o objeto de análise qualificado metodologicamente e o impacto da pesquisa. Está situado no campo da História que se convencionou chamar História do Tempo Presente, mas abrange também dimensões de estudo dos campos das ciências humanas e sociais, como marco teórico. Toma como técnica metodológica a investigação de publicações sobre o assunto disponíveis nas redes sociais, especificamente no Facebook, e em jornais digitais. A pesquisa estabelece como hipótese que os fenômenos decorrentes do cancelamento da Queermuseu até a realização da 21ª Parada Livre de Porto Alegre são transversais à história dos direitos da cidadania LGBT no Brasil, sendo eles resultados dos processos históricos envolvendo os agentes ativos e conflitantes da sociedade brasileira ao mesmo tempo em que nela se inserem promovendo novas perspectivas para a história dessa população.