| dc.description.abstract | A produção do espaço é uma característica humana, durante nossa existência aqui, temos deixado marcas sobre/para
nossa sobrevivência, e elas representam a nossa visão de mundo. Uma dessas primeiras marcas foi a diferenciação
do espaço em rural e urbano. E este último passou a crescer em tamanho e importância nos séculos que seguiram, até
chegar hoje como o principal espaço em que habitamos.
Edificações, vias, movimento, barulho e poluição são características do urbano, elementos que aumentam de intensidade à medida em que aumenta o tamanho das cidades. Criamos um ecossistema complexo, no qual a natureza tem sido relegada a segundo plano, e os problemas ambientais crescem de forma acelerada, tanto que hoje lutamos para que o aquecimento do planeta não tenha índices que tornem nossa vida na terra impossível.
Está claro que o aquecimento global não é o único transtorno que temos, infelizmente existem outros, como o resíduo sólido. A proporção é tal que esse individualmente já poderia ser considerado um problema do século. Ano a ano, a abundante geração de resíduos e o descarte incorreto dos mesmos causam enormes prejuízos. Podemos citar, dentre eles, a obstrução de bueiros que impedem o bom escoamento das águas de chuvas. Para além disso, outras práticas comuns nas cidades, como a utilização excessiva de concreto, a pouca arborização, contribuem para a infiltração das águas, provocando alagamentos e enchentes, que, junto com as chuvas copiosas mal distribuídas registradas nesses últimos tempos, afetam com muita severidade principalmente famílias mais vulneráveis.
Certamente, não são só as cidades que possuem esse tipo de problema, não é privilégio do espaço urbano a difícil relação da humanidade com a natureza, como é o caso dos agrotóxicos no meio rural. Desde a segunda guerra mundial, seu uso se generalizou na produção agrícola, causando desastres na natureza. Ainda que combata pragas e doenças, passou a contaminar poços, mananciais, rios e lagos. O impacto causado é sem precedentes, com consequências catastróficas como a perda ou a extinção de espécies de fauna e flora e de microrganismos que proporcionam o equilíbrio dinâmico dentro do ecossistema.
Porém, é no espaço urbano que temos maior número de humanos e onde estão as decisões políticas e econômicas, portanto lá devem se concentrar ações para mudança.
O que fazer e como fazer tem sido alvo de debates incansáveis no globo, teorias têm sido discutidas, modelos cria-
dos em busca de soluções, tecnologias têm avançado para solucionar problemas imediatos e produzir um mundo melhor. Cabe aqui ressaltar o pensador latino-americano Enrique Leff, que nos brinda com o conceito heurístico de Racionalidade Ambiental. Para ele, a racionalidade até então tem sido guiada pela perspectiva do lucro e do consumo, devemos buscar algo novo, que seja marcado por princípios éticos, teóricos, tecnológicos, culturais, educacionais, econômicos e políticos que busquem uma
perspectiva ambiental, pois a natureza e sociedade são um conjunto, não podem estar em oposição.
Nesse espírito nasce este livro, buscando uma nova relação entre natureza, sociedade e reforçando uma educação que seja ambiental. Convencidos de que a educação exerce um papel de transformação de realidades, que vai além da transmissão de conteúdos que impactam de diferentes maneiras na vida das pessoas e na sociedade. Ele é fruto de diálogos multidisciplinares ocorridos no grupo Hortas Urbanas da UFPel e do evento XVIII Seminário de Estudos Urbanos e Regionais - Diálogos Internacionais sobre Hortas Urbanas e Sustentabilidade nas cidades, ocorrido em abril de 2022, de forma remota. | pt_BR |