Efeito sazonal da contaminação por aflatoxinas B 1 e M 1 em propriedades leiteiras na região Sul do Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
Aflatoxinas são substâncias tóxicas produzidas pelo metabolismo secundário
de algumas espécies fúngicas como Aspergillus flavus, A. parasiticus e A. nomius,
que contaminam produtos agrícolas bastante utilizados na alimentação
humana e animal. Entre esses contaminantes estão as aflatoxinas B
1
(AFB
1
),
B
2
(AFB
2
), G
1
(AFG
1
) e G
2
(AFG
2
). A aflatoxina M
1
(AFM
1
) é um metabólito hidroxilado
da AFB
1
e pode ser encontrada no leite proveniente de animais que
ingeriram ração contaminada com AFB
1
,
tornando-se um risco para saúde humana
uma vez que apresenta propriedades mutagênicas, teratogênicas e cancerígenas.
O
objetivo
do
trabalho
foi
avaliar
a
presença
de AFB
1
, AFB
2
, AFG
1
e
AFG
2
em amostras de ração para animais produtores de leite e de AFB
1
e
AFM
1
em leite cru, analisando o efeito sazonal, além de estimar a exposição
humana à aflatoxinas de acordo com a estimativa da ingestão diária através do
leite. As amostras de rações foram coletadas em uma propriedade leiteira localizada
na região Sul do Rio Grande do Sul, Brasil, em quatro ocasiões referentes
às
diferentes
estações
do
ano.
Em
cada
uma,
amostras
de
leite
foram
coletadas
individualmente
de
cada
animal,
totalizando
73
amostras
(inverno,
n=
15;
primavera,
n= 20; verão n= 16; outono, n= 22). Em outras propriedades, também
localizadas
na
região
Sul
do
RS,
amostras
de
leite
cru
foram
coletadas
do
tanque
de refrigeração (n= 23). As amostras de rações foram encaminhadas
para o Instituto SAMITEC (Soluções Analíticas, Microbiológicas e Tecnológicas)
para análise da ocorrência de AFB
1
, AFB
2
, AFG
1
e AFG
2
por cromatografia
líquida acoplada a espectometria de massas. As micotoxinas do leite foram
extraídas pelo método de QuEChERS e quantificadas por cromatografia líquida
de alta eficiência com detector de fluorescência. A partir dos dados de contaminação
por
aflatoxinas
nas amostras de leite obtidas nesse trabalho, foi aval iada
a exposição da população através da ingestão do leite. A AFB
1
foi encontrada
nas rações coletadas no verão, outono e inverno, em níveis iguais a 1,0,
1,0 e 1,6 µg kg
-1
, respectivamente, e as demais aflatoxinas não foram detecta-
das. Na amostra referente a primavera, não havia contaminação. Aproximadamente
95% das amostras de leite (individual e tanque) estavam contaminadas
com AFM
1
, em níveis que variaram de 0,2 a 1,47 µg L
-1
, ultrapassando o limite
legislado no Brasil para presença dessa aflatoxina no leite (0,5 µg kg
). A maior
média de contaminação por AFM
1
das amostras de leite coletadas individualmente
de
cada animal foi encontrada no inverno (1,0 µg L
-1
), enquanto que a
concentração média nas demais estações foi em torno de 0,5 µg L
. AFB
1
foi
encontrada em 6% (n= 6) do total de amostras de leite, em concentrações que
variaram de 0,09 a 0,37 µg L
-1
. Com base no nível médio de contaminação por
AFM
1
das amostras coletadas dos tanques de refrigeração (0,63 µg L
), a estimativa
da ingestão diária dessa toxina foi de 3,0 e 10,0 ng/pessoa para adultos
e crianças, respectivamente. Esses resultados atentam para o risco à saúde
relacionado
ao
leite,
principalmente
em
relação
às crianças, que consomem
-1
-1
-1
grande quantidade desse produto e apresentam maior suscetibilidade à contaminações,
destacando-se, assim, a importância do controle da contaminação
dos produtos agrícolas destinados à alimentação animal por fungos toxigênicos
a fim de evitar a produção de aflatoxinas.