Experiências vivenciais: ser sobrevivente enlutado por suicídio sendo profissional da saúde

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Data
2024-02-26Autor
Sturbelle, Michele Nunes Guerin
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O suicídio é uma questão de saúde pública, que teve um aumento considerável nos
últimos 10 anos (2010 – 2019) em todo o mundo. No Brasil não foi diferente. Esse
fenômeno é considerado complexo e multifatorial, abrangendo diversos aspectos e
áreas do conhecimento que são implicadas durante todo o processo. Já o luto é uma
forte reação à quebra de um laço afetivo e do bem estar que havia até então, gerando
um sofrimento específico. Pelo caráter repentino e violento do suicídio o luto, nesses
casos, pode gerar culpa e autoacusação, demandando muita energia psíquica para a
sua elaboração, o que levou a denominar este enlutado como sobrevivente. Esta
pesquisa teve como objetivo compreender as experiências vivenciadas por
profissionais da saúde que se tornaram sobreviventes enlutados por suicídio após a
perda de familiar, amigo ou pessoa significativa, considerando também as perdas no
exercício da profissão. O marco conceitual foi baseado nos preceitos da Abordagem
Centrada na Pessoa (ACP), de Carl Rogers, a qual traz conceitos fundamentais, tais
como a tendência atualizante e as atitudes facilitadoras (empatia, congruência e
aceitação incondicional) que são relevantes para tratar do tema proposto, que mesmo
sendo um fenômeno universal, causa efeitos individuais e diferentes em cada pessoa.
Subsidia também a entrevista não-diretiva que foi utilizada como instrumento de coleta
de dados, tendo como questão norteadora “Fale sobre seu vínculo e toda a
experiência vivida em relação ao suicídio ocorrido”. A coleta de dados ocorreu nos
meses de Agosto, Setembro e Outubro de 2023. Foram realizadas 10 entrevistas com
profissionais da saúde de duas instituições hospitalares da cidade de Pelotas/ RS,
sendo nove mulheres e um homem, dos quais uma é psicóloga, uma arteterapeuta,
quatro enfermeiros e quatro técnicos em enfermagem. A análise dos dados foi
baseada no Modelo Fenomenológico Empírico (MFE), de Amedeo Giorgi, o qual
satisfaz a necessidade de compreensão da proposta deste estudo. Após a análise dos
dados foram formuladas quatro categorias: “História e percepção da morte por
suicídio”; “Percepção da influência da morte e luto na saúde e curso da vida”;
“Percepção das atividades laborais após a morte e o luto” e “Tendência atualizante e
atitudes facilitadoras presentes nos discursos”. Os resultados e discussão evidenciam
que todos os entrevistados têm dificuldade em compreender o fenômeno do suicídio
e sua ocorrência, mesmo assim, todos sofreram algum impacto decorrente da morte e
do luto por suicídio. Destacou-se a urgência da necessidade de intervenções
institucionais com todos os colaboradores, tanto pelo luto quanto por possíveis
adoecimentos psíquicos, criando assim, um clima favorável e atitudes facilitadoras que
contribuem para o enfrentamento da morte e luto e também como forma de prevenção
de adoecimentos e fatalidades futuras.