Interações multitróficas no gravatá-do-banhado (Apiaceae): um teste do papel protetivo das formigas
Resumo
As interações mutualísticas das formigas são facilmente observáveis, manuseáveis e
se sustentam ao longo do tempo, podendo ser consideradas um sistema modelo para
compreender a associação e a defesa das plantas. Uma das formas de defesa antiherbivoria utilizada pelas plantas é a defesa biótica, que consiste na remoção de
herbívoros por predadores, protegendo indiretamente a planta. O principal grupo
envolvido nesta defesa são as formigas, que além de proteger as plantas contra seus
inimigos naturais e diminuir a herbivoria, recebem recompensas alimentares. Esse
papel de proteção desempenhado pelas formigas está presente em diversas espécies
vegetais, com plantas que possuem estruturas especializadas, algum mecanismo
atrativo ou até mesmo que abriguem hemípteros. A interação que ocorre entre
hemípteros sugadores e formigas é chamada trofobiose. Os trofobiontes excretam
para as formigas atendentes um alimento líquido rico em açúcares. Outra
característica importante da biologia das formigas é a construção de formigueiros,
sendo uma atividade fundamental para diversos serviços ecossistêmicos. O objetivo
desse estudo foi avaliar a atuação de Camponotus termitarius na remoção de
herbívoros em plantas de Eryngium pandanifolium (gravatá-do-banhado) nas
proximidades dos ninhos. Avaliamos também o papel relativo que a presença de
trofobiontes tem nesta remoção. O estudo foi realizado em uma região campestre
localizada no Campus Capão do Leão da Universidade Federal de Pelotas, no
município Capão do Leão. Para avaliarmos a defesa biótica perante a presença de
potenciais herbívoros nas plantas próximas a ninhos e a influência dos trofobiontes,
foram utilizados cupins para simular a herbivoria. A defesa biótica fornecida pelas
formigas foi avaliada através dos comportamentos observados nas interações com os
cupins em vários tipos de variáveis respostas, como: (i) quantidade de formigas na
planta; (ii) quantidade de toques das formigas aos cupins; (iii) tempo transcorrido até
o primeiro toque; (iv) quantidade de ataque aos cupins; (v) tempo transcorrido até o
primeiro ataque; (vi) quantidade de remoções dos cupins e (vii) tempo transcorrido até
a remoção. De um total de 360 cupins utilizados, registramos 259 interações, divididas
entre 53 toques, 128 ataques e 78 remoções, envolvendo 214 formigas da espécie C.
termitarius. Dentre as 60 plantas do experimento, 14 tiveram presença/interação de
C. rufipes, portanto foram excluídos do N de alguns experimentos, restando então 46
com interação de C. termitarius, destas, 23 estavam próximas de ninhos e 23 distantes
de ninhos. Os resultados são consistentes com a hipótese de que plantas próximas
aos ninhos recebem uma maior proteção da formiga C. termitarius contra herbivoria.
Dentre as plantas próximas, a distância em que o ninho se encontra é irrelevante para
a defesa biótica. O efeito da presença de trofobiontes neste cenário aumenta o
patrulhamento e reconhecimento de possíveis ameaças à planta, porém não aumenta
os ataques.

