Entre rupturas e continuidades: temores e outros aspectos em relatos sobre as Cavalhadas de Pirenópolis (2021-2023)

Abstract

Pretende-se, neste trabalho, analisar aspectos ligados à construção de memórias e identidades individuais e coletivas presentes em duas entrevistas conduzidas remotamente com moradores de Pirenópolis, tendo as Cavalhadas como eixo temático. Objetivamos, através da comparação entre os relatos colhidos por meio da metodologia de história oral (THOMPSON; BORNAT, 2014), compreender o papel da memória na construção de identidades amparadas em uma tradição em processo de (re)invenção (HOBSBAWM; RANGER, 1983), bem como os impactos de uma situação traumática comunitária (o primeiro biênio da pandemia de Sars-Cov-2) e o hiato da celebração decorrente da condição sanitária adversa como fator ligado à expectativas de continuidade e temores de ruptura da tradição. Celebrações que, na cidade goiana selecionada, são parte da Festa do Divino Espírito Santo, as Cavalhadas utilizam elementos narrativos e imagéticos percebidos como medievais para simular o confronto entre cristãos e mouros, tendo por resultado a conversão dos últimos à crença dos vencedores, os primeiros. Antes consideradas como evidências de supostas “raízes medievais” do Brasil (FRANCO JR, 2008), compreendo estas e outras recepções de Carlos Magno para cá do Atlântico como celebrações da construção (através do genocídio que definiu e define a conquista colonial) de uma sociedade que se pressupõe unificada, fruto daquilo que Marlyse Meyer denotou como sendo a Guerra Santa da Conversão (2001).