Os cotidianos e os estudos sobre intervenções com autores de violência doméstica: aproximações e possibilidades

Abstract

Muitas pesquisas sobre violência doméstica contra as mulheres, sobre homens autores de violência (HAV) e sobre intervenções educativas destinadas a esses últimos, temas dos quais me ocupo em minha pesquisa, realizam suas análises amparadas em debates macropolíticos/macroestruturais. Desde que decidi me aventurar num ziguezaguear teórico prático sobre tais intervenções (hoje, previstas como medida protetiva de urgência na Lei Maria da Penha), também busquei compreender estruturas e normas sociais subjacentes ao fenômeno da violência doméstica, e como estas operam na organização das relações de gênero e na constituição de subjetividades - sobretudo, nas masculinidades de homens cisgêneros. Compreendia - e ainda compreendo - que entender as bases estruturais que dão sustentação e legitimidade a comportamentos violentos de homens contra mulheres, sobretudo em relacionamentos afetivos cisheteronormativos, permite-nos pensar em múltiplas formas de atuar no enfrentamento dessas violências, para além da punição penal. Nesse sentido, intervenções educativas, como grupos reflexivos de gênero, apresentam-se como práticas de prevenção possíveis para questionar, junto aos homens, padrões nocivos de gênero que associam masculinidades e violências.