dc.description.abstract | Em A Gaia Ciência, no aforismo intitulado É preciso aprender a amar, Nietzsche ao se referir a música e a como “aprender a ouvir”, refere-se a uma espécie de acuidade mobilizada, para detectar, distinguir, isolar uma figura, uma melodia: como uma vida em si (NIETZSCHE, 2012). Tal acuidade da escuta é uma inteligência possível, assim como a acuidade tátil, olfativa, cinestésica e sinestésica. Já, nos escritos tardios, em Crepúsculo dos Ídolos, parágrafo 10 de Incursões de um Extemporâneo, no contexto da embriaguez apolínea e dionisíaca, a arte da música é uma expressão oriunda da combustão de um campo afetivo, de forças; amplo. Não figura como expressão subtraída desse vasto campo, mas uma especificidade, uma criação, uma síntese, e acrescenta que para torná-la possível “foi imobilizado um certo número de sentidos, sobretudo, a sensibilidade muscular (ao menos relativamente)” (NIETZSCHE, 2006), o que é possível compreender, na medida em que para certas tarefas e desenvolvimento de “sabedorias instintivas de prenhez espiritual” (NIETZSCHE, 2017) certa diligência afirmativa se faz oportuna.
Logo, tratar da questão do aguçamento dos sentidos e da sensibilidade leva em consideração as nuances, variações, detalhes, bem como as inflexões e sinuosidades observadas nos escritos de Nietzsche, seja em relação a arte da escuta, seja ao que diz respeito a expressão. Em 1888, ano de escrita e publicação de muitos livros, dentre eles, Crepúsculo dos Ídolos, encontramos nos Fragmentos Póstumos de mesmo ano, a música como suggestion (sugestão) às desenvolturas da dança, por exemplo, no registro da fisiologia da arte, das alterações vasculares, do embelezamento. No artigo A fisiologia da arte no Nietzsche tardio: O sentido da crítica aos artistas modernos da décadence, de Clademir Araldi, o aguçamento participa do funcionamento, da tessitura da embriaguez (ARALDI, 2024). | pt_BR |