Empresas transnacionais e geopolítica contemporânea: as dinâmicas entre Brasil, China e Estados Unidos da América na cadeia global de valor da soja
Resumo
A presente pesquisa analisa as dinâmicas que envolvem três países fundamentais para a Cadeia Global de Valor (CGV) da soja (Glycine max): Estados Unidos da América (EUA), China e Brasil. O objetivo geral da pesquisa visa analisar as transformações contemporâneas nos três principais atores territoriais da CGV da soja, buscando compreender o papel desempenhado pelas cinco maiores traders do grão em relação às dinâmicas geopolíticas destes Estados. Para isso, realiza-se uma revisão teórica e bibliográfica, baseada na reconstituição histórica da questão, além de um balanço da situação contemporânea, por meio da análise de dados secundários. Destaca-se a importância da logística e do comércio na geopolítica contemporânea e avalia-se o papel das Empresas Transnacionais (ETNs) no processo de globalização, inserindo-o em uma conjuntura mais ampla, marcada pela transformação das disputas hegemônicas e das hierarquias de poder. Argumenta-se que a soja é um ativo central para compreender a mecânica agroalimentar dos países analisados. Como resultados, apontamos que nos EUA, a consolidação da potência econômica e política foi acompanhada da estruturação técnica e institucional que permitiu a concentração do comércio transnacional de grãos em quatro grandes empresas, conhecidas como grupo ABCD (ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus). Já a China, apesar de ser o berço histórico da oleaginosa, reassume apenas recentemente um papel central nessa cadeia, impulsionada por sua ascensão econômica e pela internacionalização de suas Empresas Transnacionais Estatais (ETNEs). Atualmente, o país é o principal importador mundial de soja e, por meio de subsídios estatais, consolidou a China Oil and Foodstuffs Corporation (COFCO) como a segunda maior trader de commodities do mundo. O Brasil, por sua vez, nos últimos anos tornou-se o maior produtor sojícola, mas sua participação na CGV permanece predominantemente baseada na exportação de grãos com baixo valor agregado, majoritariamente controlada por ETNs estrangeiras. Esse panorama revela implicações espaciais significativas, evidenciando o papel das ETNs na consolidação de um sistema sociotécnico, e que gerencia as operações globais de acordo com seus interesses, alinhadas à zona de influência de onde se originam. Nesse contexto, a governança privada e transnacional do setor limita as possibilidades de um posicionamento estratégico autônomo por parte dos agentes brasileiros.