Trajetórias laborais e projetos de aposentadorias de mulheres em processo de envelhecimento:possibilidades no novo cenário previdenciário.
Resumo
A Reforma Previdenciária de 2019, no Brasil, resultou em severas mudanças legislativas para os cidadãos que almejam uma aposentadoria e um descanso pós-vida laboral. No caso das mulheres, sujeitos de análise desta pesquisa, as alterações mais prejudiciais foram a fixação da idade mínima de 62 anos, o aumento do tempo de contribuição e a extinção da aposentadoria por tempo de contribuição, que, anteriormente, não exigia idade mínima. A pesquisa buscou compreender como as mulheres planejam ou mobilizam seus processos de envelhecimento e de aposentadorias sob os efeitos do novo contexto previdenciário, tendo em vista que projetos de envelhecimento, assim como os de aposentadorias previamente estabelecidos, foram impactados por esse recente processo regulatório. Em vista disso, a pesquisa centrou a investigação em trajetórias laborais e na capacidade
contributiva de uma diversidade de trabalhadoras, para compreender quais seriam as possibilidades objetivas para acessar uma proteção social ou outras maneiras de assegurar um futuro financeiro estável. Para tanto, a investigação foi realizada no município de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, com uma abordagem qualitativa, na qual se empregou a técnica de entrevistas narrativas com 24 trabalhadoras (do cuidado direto e indireto, professoras e profissionais liberais), com idade entre 35 a 64 anos, com diferentes ocupações, distintas formas de inserção e de permanência no mercado laboral, entre outros aspectos. As trajetórias analisadas evidenciaram que as trabalhadoras que cuidam, têm a continuidade do trabalho como forma de garantir a subsistência diante das incertezas da aposentadoria e da renda insuficiente para assegurar a vida. Em razão do atual cenário sócio econômico na qual estão inseridas e pela constituição de trajetórias ocupacionais fragmentadas, as quais são incapazes de prover condições mínimas para vivenciar melhores velhices. Para as professoras e profissionais liberais, o trabalho também aparece nos projetos futuros, entretanto, como expressão de vontades e forma de realização de outros interesses. As professoras, se mobilizam de melhores maneiras para concretizar o que planejam para o tempo de envelhecer, apoiam-se na aposentadoria familiar e possuem campos de possibilidades mais seguros para esse tempo, podendo experienciar novas vivências além do trabalho. As profissionais liberais para o tempo do envelhecer, possuem planos de aposentadorias e estratégias (patrimônio, investimentos e etc.) que asseguram proteção e novos campos de ações para projetar novas experiências nesse tempo.