Produção econômica de subsistências das mulheres horticulturas na Granja de Pessubé: os desafios da construção de laços de solidariedade e de enfrentamentos às desigualdades
Abstract
A presente dissertação problematiza a concepção dominante e tradicional de economia, destacando a importância da compreensão dos pressupostos da economia substantiva e plural de Karl Polanyi no contexto africano especialmente na Guiné Bissau, marcado por profundas desigualdades de gênero. Apesar do predomínio da lógica voltada à produção de capital, práticas produtivas baseadas na reprodução da vida já existiam em sociedades anteriores e permanecem ativas em muitas comunidades. O objetivo nesta dissertação é compreender as dinâmicas de produção econômica e as formas de enfrentamento das desigualdades vividas pelas mulheres horticultoras, considerando os laços solidários e a preservação da herança cultural ancestral. A pesquisa foi realizada na Granja de Pessubé, um dos maiores espaços de produção hortícola da Guiné-Bissau, onde a produção está voltada à subsistência das famílias e exerce impacto significativo na economia local. A abordagem adotada é qualitativa, fundamentada na economia substantiva e articulada a teorias feministas e decoloniais. Foram realizadas oito entrevistas semiestruturadas, todas em crioulo guineense, com cinco mulheres horticultoras, dois trabalhadores externos e um gestor público. Os resultados demonstram que, nos países africanos especialmente na Guiné-Bissau, a produção agrícola de subsistência realizada por mulheres representa não apenas uma valorização de formas alternativas de economia, mas também uma estratégia concreta de resistência às múltiplas opressões impostas pelo colonialismo, pelo capitalismo e pelo patriarcado. Na Granja de Pessubé, embora o Estado tenha formalmente cedido as áreas de cultivo, as horticultoras enfrentam constantes ameaças: inundações, acúmulo de lixo e risco de reversão do uso das terras. Mesmo diante dessas dificuldades estruturais, mantêm práticas coletivas de trabalho e cuidado, reafirmando os vínculos comunitários e ancestrais como base para a reprodução da vida.

