Vacinologia reversa e estrutural: identificação da localização celular de alvos vacinais contra leptospirose
Resumo
A leptospirose é uma doença tropical negligenciada que acomete mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo a cada ano, com cerca de 60 mil óbitos. Ela é causada por espiroquetas do gênero Leptospira. A única vacina disponível para o controle da doença é uma bacterina, que apesar de protetora e usada mundialmente para animais, apresenta diversos efeitos adversos, imunidade de curta duração e restrita aos sorovares que compõem a formulação. Há uma necessidade de desenvolvimento de uma nova vacina contra a leptospirose capaz de conter o avanço da doença. Neste trabalho, uma nova abordagem é apresentada para descoberta de novos alvos vacinais, baseada na vacinologia reversa e estrutural. O objetivo deste trabalho foi a confirmação da localização de possíveis alvos vacinais na superfície celular de L. interrogans através do estabelecimento de uma nova técnica in vitro. Ao total, foram identificadas 18 proteínas de membrana externa com conformação de barril-β transmembrana, preditas como contendo epítopos imunogênicos e presentes nas Leptospira spp. infecciosas. Destas, nove proteínas foram produzidas através de expressão heteróloga em Escherichia coli e utilizadas para gerar anticorpos policlonais. Os anticorpos foram caracterizados e utilizados para avaliar a localização das proteínas nativas correspondentes pela técnica de imunofluorescência de superfície. Esta técnica confirmou que LIC10881 é uma proteína barril-β transmembrana exposta na superfície de L. interrogans. Todavia, a mesma abordagem sugeriu erroneamente a proteína flagelar FcpA como exposta na superfície da bactéria. A técnica de aprisionamento de espiroquetas em esferas de agarose de baixo ponto de fusão foi adaptada e aplicada de forma inovadora para L. interrogans. Esta técnica confirmou que as lipoproteínas LigB, LipL32 e LcpA estão expostas na superfície da leptospiras patogênicas. Esta técnica é promissora para determinar a localização de proteínas na superfície celular de L. interrogans, porém ainda carece de maior comprovação experimental.

