Governar pelo medo? Ascensão e manutenção do poder nas ditaduras ibéricas do século XX.
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo compreender por que os regimes autoritários de António de Oliveira Salazar, em Portugal, e Francisco Franco, na Espanha, apresentaram uma longevidade notável em comparação a outras ditaduras contemporâneas. Adotando uma abordagem qualitativa, a investigação realizou uma análise comparativa das conjunturas internas e externas que moldaram esses regimes. Como referencial teórico, propôs-se uma teoria sobre as políticas do medo e suas formas de estruturação. A aplicação desse modelo teórico aos casos empíricos demonstrou sua viabilidade explicativa. As hipóteses formuladas permitiram abarcar múltiplas variáveis interpretativas, destacando, entre elas, o uso sistemático de políticas do medo como um dos principais mecanismos de ascensão e manutenção do poder. Por meio da repressão em múltiplas formas, esses regimes dificultaram a organização e coesão das dissidências. Além disso, a capacidade de adaptação dos líderes e o contexto internacional contribuíram para a resistência a pressões externas que poderiam ter interrompido sua continuidade. Conclui-se que a instrumentalização de medos sociais — pré-existentes ou fomentados a partir de contextos bélicos — serviu de base retórica e prática para a construção de inimigos internos, a criação ou reestruturação de agências repressivas e sua aplicação sistemática em prejuízo das populações de ambos os países.

