A atuação do jornalismo na normalização de uma masculinidade nociva: um estudo sobre o framing dado ao gênero durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022).
Resumen
Esta pesquisa analisa como o jornalismo hegemônico brasileiro, representado pelos portais digitais de G1, Folha de S. Paulo e Estadão, abordou os discursos e os processos comunicacionais relacionados à masculinidade durante o período em que
Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) atuou na presidência. Como presidente, Bolsonaro adotou uma performance masculina pautada na agressividade, misoginia e na defesa de uma masculinidade hegemônica limitante. A análise parte de uma conceituação feminista do gênero como construto social e de uma visão das masculinidades como uma constante disputa de poder, onde virilidade e valentia são elementos centrais. O fio condutor desta investigação é a capacidade – ou disposição
– do jornalismo tradicional em adotar uma postura crítica frente a um discurso presidencial masculinista, homofóbico e misógino, enquanto tentava manter os princípios da objetividade e da neutralidade. Nesse processo, também são analisadas publicações que refletem o embate entre o então presidente e os meios de comunicação, em um processo marcado pela demanda de manutenção de uma credibilidade atacada durante quatro anos. Esta pesquisa estipula a existência de um processo de normalização dos elementos hegemônicos da masculinidade na figura de Bolsonaro. Suas declarações problemáticas, embora recebessem grande destaque e fossem frequentemente citadas de forma direta, não foram criticadas de forma sistemática. Esta análise observou um endurecimento na postura agressiva de Bolsonaro ao longo do mandato, refletido no aumento dos ataques à imprensa e na frequência de declarações sobre sua virilidade em 2022, em contraste com uma abordagem mais "branda" em 2019. Por fim, esta pesquisa observa que o jornalismo tradicional, ao mesmo tempo em que deu ampla visibilidade às falas de Bolsonaro, contribuiu para a normalização de sua performance de masculinidade hegemônica, com a crítica jornalística priorizando a defesa institucional em detrimento de uma desconstrução sistemática das problemáticas de gênero presentes no discurso presidencial.

