Significado do uso de plantas em práticas de autoatenção em situações de padecimento
Resumo
As plantas sempre estiveram presentes nas práticas de autoatenção em situações de padecimento. Seu uso pode desencadear outras formas de cuidado à saúde, bem como um conhecimento ou reconhecimento deste saber por parte dos profissionais e usuários. A tese teve como objetivo geral compreender o significado que as pessoas atribuem à utilização das plantas nas práticas de autoatenção em situações de padecimento, e como objetivos específicos: conhecer o significado dado pelas pessoas sobre a utilização das plantas como prática de autoatenção em situação de padecimento; verificar as práticas de autoatenção realizadas pelas pessoas por meio das plantas em situação de padecimento; e identificar as plantas utilizadas nas situações de padecimento. Para tal, o estudo ancorou-se na antropologia da saúde de Arthur Kleinman, Eduardo Menéndez, no pensamento interpretativista de Clifford Geertz (antropologia cultural) e no cuidado de Marie-Françoise Collière. A pesquisa é qualitativa, do tipo exploratória descritiva, com orientação etnográfica. A coleta de dados foi realizada de abril de 2015 a fevereiro de 2017, por meio do método da observação participante e entrevista semiestruturada. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo proposta por Bardin, que abrange as seguintes etapas: préanálise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e interpretações. Participaram 17 informantes de uma localidade rural do município de
Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. O estudo teve aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa com o número de Parecer 981.660 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 41244715.8.0000.5346. Os resultados estão apresentados na forma de um relatório e dois artigos. O relatório descreveu as atividades desenvolvidas durante a coleta de dados, como as entrevistas e as observações da utilização das plantas como práticas de autoatenção em situação de padecimento, bem como a coleta e identificação das 43 plantas citadas pelos informantes. No primeiro artigo
participaram 17 informantes da Região Central do Rio Grande do Sul, com idades entre 24 e 89 anos, que utilizam plantas nos cuidados à saúde. Na análise de conteúdo, elaborou-se o eixo temático " Significados atribuídos pelos informantes sobre a utilização das plantas medicinais". O segundo artigo teve a participação de seis dos 17 informantes, com idades entre 64 e 88 anos, que utilizaram plantas nas práticas de autoatenção em situação de padecimento para picadas de insetos, aranhas e serpentes. A análise de conteúdo foi organizada em tópicos: descrição dos informantes e plantas utilizadas para picadas de insetos, aranhas e serpentes. Foi descortinado, na tese, o uso de 43 plantas como prática de autoatenção em situações de padecimento, representando significados específicos para cada pessoa. Constatou-se que existem outras formas de cuidar da saúde, e que estas, muitas
vezes não são reconhecidas pela ciência, resultando em um distanciamento entre o saber popular e o acadêmico. Percebe-se uma lacuna entre a realidade das práticas de autoatenção no cuidado à saúde e o que é apresentado nas práticas da assistência realizadas pelos profissionais da saúde. O enfermeiro poderá desenvolver novas maneiras de cuidar ao aprofundar-se em referencial antropológico da saúde, conectado ao uso das plantas pelas pessoas em práticas de autoatenção nas
situações de padecimento. A tese também possibilitou a discussão e construção do conceito de práticas iniciais com o uso de plantas medicinais no meio rural, o qual poderá ser referenciado no futuro.
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