O efeito da depressão na saúde bucal e no uso dos serviços odontológicos nas populações.
Resumo
A depressão está entre as doenças crônicas mais prevalentes no mundo, sendo considerada um importante fator de risco para outras condições sistêmicas crônicas. Nos últimos anos, os estudos têm investigado a contribuição da depressão no desenvolvimento das doenças bucais e na busca pela assistência odontológica. Entretanto, estas questões ainda permanecem incertas. Sendo assim, esta tese teve o objetivo de investigar o efeito da depressão na saúde bucal da população por meio de duas revisões sistemáticas, e por meio de um estudo transversal na Coorte de Nascimentos de 2015 de Pelotas. O primeiro estudo investigou a associação bidirecional entre a depressão e os desfechos em saúde bucal na população, e o segundo a associação da depressão/ansiedade com o uso de serviços
odontológicos. As revisões sistemáticas da literatura e meta-análise foram desenvolvidas segundo as recomendações do PRISMA. Após a busca em seis bases de dados, foram realizadas a exclusão de duplicatas, seguida pela seleção dos artigos por título e resumo conforme os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. A segunda parte da seleção incluiu a leitura dos artigos na íntegra. As
avaliações metodológicas foram realizadas utilizando a ferramenta Critical Appraisal Checklist do Instituto Joanna Briggs. O terceiro artigo investigou a associação da depressão com a experiência de cárie dentária nas gestantes pertencentes à Coorte de Nascimentos 2015 de Pelotas. Os dados foram coletados por meio de entrevista domiciliar e exame bucal. A depressão foi mensurada pela Escala Pós-parto de Edimburgo. A experiência de cárie dentária foi avaliada pelo Índice CPO considerando as superfícies dentárias. As análises estatísticas foram realizadas no Programa Stata 12.0. Um modelo hierárquico foi construído para guiar os ajustes das análises. Modelos de Regressão de Poisson foram empregados, e as magnitudes das associações estimadas (Razão de Prevalência; Intervalo de
confiança de 95%). No primeiro artigo 19 estudos foram incluídos: 16 estudos consideraram saúde bucal como desfecho, e três estudos a saúde bucal como exposição. Foi possível observar que indivíduos depressivos apresentaram 19% (RO 1,19; IC 95% 1,00-1,41), 33% (RO 1,33; IC 95% 1,18-1,50) e 21% (RO 1,21; IC 95% 1,09-1,34) maior de chance de ter cárie dentária, perda dentária e edentulismo, respectivamente. Entretanto, quando depressão foi considerada como desfecho, estas associações não foram encontradas. No segundo artigo, sete estudos foram incluídos na meta-análise. Considerando depressão (RO 0,96; IC 95% 0,85-1,09) e ansiedade (RO 1,00; IC 95% 0,90-1,12) como exposição, não foi possível observar associação com o uso de serviços odontológicos como desfecho. O terceiro artigo inclui 2.496 gestantes. Depressão não foi associada com experiência de cárie
dentária considerando o CPO-S (RP 1,02; IC 95% 0,98-1,07). Entretanto, quando os componentes do CPO-S foram considerados separadamente, a depressão foi associada com maior prevalência de cárie não tratada (RP 1,19; IC 95% 1,06-1,35) e perda dentária (RP 1,17; IC 95% 1,08-1,26), assim como menor prevalência de superfícies restauradas (RP 0,91; IC 95% 0,84-0,99). Os achados desta tese
mostram uma associação entre depressão e as doenças bucais na população, incluindo a população de gestantes. Por outro lado, não foi possível identificar uma associação entre depressão/ansiedade e o uso de serviços odontológicos na população.
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