A trajetória do Fórum de Agricultura Familiar da Região Sul do RS: entre mediações e (re) configurações.
Resumo
Esta dissertação apresenta os resultados de pesquisa de uma experiência de gestão local, participação cidadã e políticas públicas no extremo sul do Brasil. Trata-se de um estudo de caso realizado junto ao Fórum de Agricultura Familiar da Região Sul do Rio Grande do Sul, criado em 1995 e que a partir de 2004 adquiriu uma interface socioestatal - passando a atuar como colegiado territorial do território Zona Sul do Estado. Partimos do pressuposto teórico de que os processos de gestão local e participação cidadã envolvem uma complexidade de fenômenos, que configuram relações que se estabelecem entre os agentes, muitos deles promovidos por processos de mediação social. Estas relações geram interdependências multidimensionais, que para além dos aspectos econômicos e políticos, envolvem questões culturais e afetivas. Utilizamos como referencia teórica os pressupostos da epistemologia crítica (DE LA GARZA); da sociologia da interdependência (ELIAS); e pesquisas realizadas em processos participativos de implementação de políticas publicas no mundo rural brasileiro (SILVA, FAVARETO; DEMARCO, MATTEI; CAZELLA, SCHNEIDER, SCHMITT). Também foram utilizados aportes teóricos da sociologia norte-americana relativos à interdependência entre o contexto político institucional e os repertórios de ação coletiva (MCADAM, TARROW, TILLY, SKOCPOL) e das relações de mediação social (NEVES, NUSSBAUMER; ROS). Como procedimentos metodológicos, privilegiou-se a análise documental, a observação participante e retrospectiva e a realização de entrevistas (focadas e por pauta). O Fórum é caracterizado pela realização de reuniões mensais, nas quais participam organizações governamentais e não governamentais ligadas aos agricultores familiares, assentados de reforma agrária, pescadores artesanais e comunidades quilombolas. Analisou-se uma série de nove anos de atividades desse fórum (2004-2012). Os resultados demonstram que nesse período houve um crescimento significativo das organizações participantes. Cabe destacar que no período analisado integraram-se, em 2004 organizações ligadas à pesca artesanal e em 2007 comunidades quilombolas, as quais nunca haviam participado de outros espaços de gestão e mudaram o rosto do Fórum. Os dados obtidos demonstraram que essa inclusão foi oportunizada por meio da ação de um centro vinculado aos pequenos agricultores, enquanto mediador social. O Fórum, por sua vez, foi capaz de incluí-los nos processos de gestão desse espaço e de debate e deliberação das políticas públicas disponibilizadas. A análise da trajetória do Fórum nos aponta para as especificidades e influência de diversos fatores no processo de participação social, rompendo com qualquer explicação pela dependência imediata e espontânea entre os grupos, contribuindo para estudos na área.
Collections
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: