Condenados a vencer: a atuação do SEBRAE na produção discursiva do indivíduo empreendedor de si mesmo.
Resumo
Derivadas da reestruturação produtiva e das reformas sociais e econômicas de
inspiração neoliberal, o desmantelamento do Estado de Bem-Estar Social promoveu
transformações nas relações entre Estado, sociedade e organizações fazendo com
que, atualmente, o Estado e as empresas não garantam integração sólida para os
trabalhadores. Considerando as condições de insegurança e instabilidade desse
cenário, percebe-se hoje, a existência de um discurso que convoca o indivíduo a
responsabilizar-se pela sua condição de empregabilidade, isto é, um discurso que
dissemina a ideia do empreendedor de si mesmo como um indivíduo capaz de
vencer as incertezas e inseguranças da vida social no contexto do capitalismo
flexível. Desse modo, nota-se um estímulo do Estado para a emergência de
organizações responsáveis por garantir instrução necessária para o indivíduo vencer
por si mesmo. É nesse cenário que o SEBRAE (Serviço de apoio às Micro e
Pequenas Empresas) e suas ações merecem destaque. Objetivando analisar o
papel do SEBRAE na disseminação e reprodução do empreendedorismo no Brasil,
esse estudo, predominantemente qualitativo e descritivo-interpretativo, utilizou a
técnica de estudo de caso tendo o SEBRAE como unidade de análise. A coleta de
dados se deu de forma secundária através do site do SEBRAE, e primária, a partir
da observação direta dos cursos de ensino à distância do SEBRAE no perfil “Quero
empreender” (cartilhas e depoimentos do fórum de apresentação dos cursos). Após
a análise, algumas questões recorrentes nesse material foram expostas a partir de
duas categorias: “Empreendedorismo como movimento social mundial” e “SEBRAE
vendedor de sonhos”. Refletindo sobre tais afirmações é possível perceber que a
mídia, a literatura de negócios, juntamente com o SEBRAE, apontam que estimular,
apoiar e educar para o empreendedorismo deve estar no topo das prioridades de um
governo. Políticas públicas vêm sendo criadas cada vez com mais frequência e
estão direcionadas a alavancar a ideia do empreendedorismo e legitimar esse
cenário na tentativa de desenvolvimento. É possível pensar ainda que atualmente o
Estado dissemina seu discurso pela voz do SEBRAE e apesar dos discursos, o
empreendedorismo não é uma aventura possível para todos. Nessa tentativa surge
um indivíduo „novo‟ no mercado, que é inseguro e que para sobreviver é convocado
a “virar-se” por conta própria, não olhar para trás e buscar sempre mais.
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