Psicologia platônica: imortalidade, tripartição e as consequências do desejo.
Resumo
O objetivo do trabalho consiste em uma exegese do conceito de alma presente na
filosofia de Platão. Estudar a alma nesse autor é adentrar em suas concepções
psicológicas, as quais são divididas entre imortalidade, tripartição e suas relações com
o desejo. A imortalidade da alma é fundamentada a partir do fenômeno cíclico que ela
atinge entre a vida e a morte, isto é, entre uma encarnação e outra. Enquanto não
está encarnada, ela apresenta um caráter cognitivo o qual permite que ela contemple
as Formas que podem ser rememoradas durante a encarnação, o que possibilita o
fenômeno do sujeito compreender que algo é igual, belo e tudo aquilo que participa
daquilo que é imutável. Como as Formas são necessariamente a causa de tudo aquilo
que não pertence ao mundo inteligível, a alma carrega em sua formação a Forma da
Vida, a qual não pode admitir ao mesmo tempo a morte, o que garante o status de
sua imortalidade. O conceito de alma adquire uma nova formulação no livro IV da
República, pois se antes ele possuía a característica de unidade racional, no diálogo
posterior ao Fédon, ela ganha a característica de ser tripartite. O elemento racional, o
irascível e o apetitivo consistem em as três partes da alma, as quais são fundamentais
para analogia política. Com o abandono do caráter unitário da alma, o corpo é
desresponsabilizado por qualquer causa do desejo, pois o desejar racional ou o
apetitivo são atribuições somente da alma. A alma do sujeito que contém a virtude da
justiça permite que cada parte da alma funcione de acordo com sua natureza, ou seja,
o elemento racional no comando, tendo como aliado a parte irascível, que juntas
comandam a maior parte da alma, o elemento apetitivo. Com a refinação do conceito
de alma, cada parte promove impulsos no sujeito para que busque o prazer respectivo
de cada uma. O prazer da parte racional consiste no aprender, a do irascível nas
honras e no apetitivo desde os prazeres da comida, bebida e sexo, como também
aqueles inaceitáveis perante a lei. Todo o desejo é um vazio e a tentativa da obtenção
de prazer consiste em um movimento de repleção que somente aquele que busca o
prazer na sabedoria atinge uma espécie de plenitude. Os desejos provenientes das
partes apetitiva e irascível consistem em objetos de prazeres falsos, pois esses não
pertencem ao mundo inteligível, constituindo somente simulacros. Com a analogia
política, o autor demonstra as consequências daquele que se direciona para o
caminho da virtude ou do vício. O filósofo é o mais feliz de todos porque é o único
capaz de preencher o vazio do seu desejo com o que é real, enquanto o tirano ocupa
o contrário desta figura, pois nunca consegue abandonar seu vazio, pois só consome
objetos afastados do ser, garantindo assim, sua infelicidade e insaciabilidade.
Collections
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: