Territorialidades em disputa: normativas e narrativas do Passo dos Negros em Pelotas/RS.
Resumo
Este trabalho propõe uma reflexão sobre as diferentes narrativas relacionadas aos modos de viver e habitar existentes no Passo dos Negros às margens do Canal São Gonçalo, na cidade de Pelotas - RS. A proposta surgiu das diversas perspectivas sobre um espaço em disputa na cidade e a análise das transformações em diferentes temporalidades, desde sua origem como um importante ponto de comércio de gado e de mão de obra escravizada durante o período das charqueadas, passando pelo ápice do período econômico do arroz, com a construção e funcionamento de um engenho de arroz. Até o presente, em um contexto de conflitos intensificados pela especulação imobiliária e remoção de moradores/as. A proposta é compreender o espaço do Passo dos Negros a partir das narrativas dos/as moradores/as da localidade sobre suas vivências cotidianas, conflitos e transformações. Os/as moradores/as lutam por seu direito adquirido de moradia e resistem em permanecer habitando o local, buscando, também, preservar o patrimônio cultural existente. A comunidade reivindica a patrimonialização daquele espaço, antes que a densa ocupação por condomínios fechados apague os remanescentes desses processos históricos. Para eles e elas são importantes, naquela paisagem histórica e cultural, os seguintes elementos: Ponte dos Dois Arcos (século XIX), Figueiras (protegidas por legislação ambiental), Corredor das Tropas (século XIX), o complexo arquitetônico do Engenho Pedro Osório (1922) e seu respectivo entorno, margens do Canal São Gonçalo (também protegido por legislação ambiental). O III Plano Diretor da cidade, de 2008, foi atualizado e reproduz o cenário contemporâneo em que o Passo dos Negros vive, com a redução de área de interesse ambiental. Em paralelo a essas ações da gestão oficial da cidade, outras lutas vêm sendo travadas para que o lugar possa preservar essas narrativas, sejam através de seu patrimônio arquitetônico e seu traçado urbano, seja pelas manifestações culturais de seus moradores e moradoras, que denunciam os riscos quanto à vulnerabilidade da área frente a investidas de expansão urbana pautadas em interesses de empreendimentos imobiliários, que estão desvinculados do contexto existente no Passo dos Negros.
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