Bioacústica de grilos (Orthoptera, Grylloidea): registro, descrição e armazenamento dos sinais acústicos, com listagem das espécies registradas no Brasil
Resumo
Os sons produzidos pelos grilos têm sido empregados na sistemática, uma vez que é uma característica espécie-específica, assim como na ecologia, distribuição geográfica, comportamento, dinâmica social, efeitos da ação antrópica, entre outras áreas. A bioacústica compreende uma série de atividades que incluem desde a gravação e descrição do som, até o seu armazenamento em um banco de dados. Este trabalho teve como objetivos utilizar o som de chamado para o reconhecimento específico de grilos Nemobiinae, discutir os critérios para o registro e descrição desses sinais acústicos, bem como elaborar um protocolo para armazenamento bioacústico de espécies de grilos (Grylloidea). Além disso, foram levantados todos os registros sonoros de espécies que ocorrem no Brasil. O trabalho foi divido em três capítulos: (1) o primeiro incluiu o registro e análise dos
sons de duas espécies de Argizala Walker, 1869 (Orthoptera, Grylloidea, Nemobiinae) que ocorrem na vegetação semi-aquática de lagos na Floresta Nacional de São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, Brasil. Os registros sonoros foram realizados na sala de gravação do Laboratório de Zoologia de Invertebrados (LZ-Invert), com temperatura controlada (22ºC±1) registrada por termohigrômetro digital. O som de chamado foi registrado com o gravador Sony PCM-D50, microfone Sennheiser ME66/K6,
sendo que as variáveis, frequência dominante, taxa de pulso, duração do pulso, intervalo mudo, período de pulso e número de ondas por pulso sonoro foram obtidas no software Avisoft-SASLab Lite. A análise estatística foi realizada no software Past 3.0 e as variáveis testadas quanto a sua normalidade. Os 14 indivíduos analisados foram separados em dois grupos (Argizala sp.1 e Argizala sp.2), que apresentaram sons diferentes entre si, sendo as diferenças suficientes para reconhecer os dois grupos de
indivíduos como espécies diferentes; (2) o Capítulo 2 incluiu a elaboração de um protocolo para o registro dos sinais acústicos dos grilos, dentro do rigor científico, necessário para a inclusão dos arquivos de sons em museus ou fonotecas. Foi realizada uma revisão bibliográfica e análise de protocolos existentes em fonotecas para nortear os itens elencados no protocolo apresentado nesse trabalho, o qual inclui elementos como a taxonomia, localização, condições climáticas, condições de registro do som, equipamento utilizado para o registro do som, tipo de som registrado dentro do repertório da espécie e armazenamento dos arquivos de som. Em cada um desses itens elencamos as informações em três categorias: essencial, importante e adicional. Desta forma, o protocolo proposto nesse trabalho traz elementos importantes para o grupo específico, assim como os
requisitos que os bancos de sons exigem para incorporar em seus acervos novos registros sonoros; (3) no Capítulo 3 foram organizados e listados os arquivos de sons das espécies de grilos do Brasil, indicando as informações contidas em cada arquivo de som, bem como a qualidade das gravações para possível deposito em fonotecas, e consequente disponibilização como informação científica. O levantamento dos registros acústicos se deu pelo acesso a informações contidas na literatura de sons documentados, bem como de sons depositados em fonotecas, além do acervo pessoal do Prof. Dr. Edison Zefa que inclui registros em fitas analógicas ou arquivos digitais. As fitas analógicas foram digitalizadas utilizando o software Avisoft-SASLab
Lite, sendo atribuídos códigos para cada espécie/indivíduo amostrada(o) nas fitas. Foram encontrados 483 registros sonoros de 48 táxons, incluindo 32 espécies, registradas em 41 localidades, e 11 Estados. De todos os registros que foram reunidos neste trabalho, 297 sons são provenientes do nosso acervo. Desta forma, contribuímos com 61,49% do total de sons registrados no Brasil.