“Nascidas no campo”: o espaço social de mulheres gestoras brasileiras atuantes em empresas rurais familiares do agronegócio
Resumo
Esta dissertação analisa o espaço social formado por mulheres brasileiras atuantes em empresas rurais familiares do agronegócio, a partir da perspectiva da desigualdade de gênero e da intersecção entre família e negócio. Entendendo que diferentes disposições incorporadas têm referências importantes na construção dos sentidos atribuídos a diferentes maneiras de ser mulher gestora e na compreensão de quais são os desafios enfrentados nesse quadro de tensões. O objetivo geral foi descrever o espaço social formado por gestoras brasileiras atuantes em empresas rurais familiares do agronegócio que são atendidas por uma empresa de consultoria da cidade de Pelotas/RS e que fazem parte dos projetos de governança ativos no ano de 2022. Metodologicamente a pesquisa combinou técnicas quantitativas e qualitativas para o levantamento dos dados empíricos. A pesquisa reuniu dados acerca de propriedades rurais e de 124 mulheres gestoras, além de entrevistas com roteiro semiestruturado com quatro gestoras. Além disso, foram realizadas conversas junto às psicólogas responsáveis pela prestação dos serviços de consultoria e analisados os protocolos familiares das empresas pesquisadas. Através da Análise de Correspondências Múltiplas, foi obtida uma representação gráfica do espaço social, em que foram identificados pelo menos quatro perfis distintos, com base na combinação das características presentes nas gestoras, em suas semelhanças, diferenças e pertencimento a contextos com particularidades similares ou distintas. Em relação às experiências individuais, a partir da análise das narrativas foi possível identificar que as diferentes disposições incorporadas em experiências passadas – nos contextos escolar, familiar e de carreira – influenciaram na construção dos sentidos de ser uma mulher gestora, em um contexto masculinizado. Considerando os quadros de tensões, os resultados apontaram para: alta cobrança sobre o seu próprio trabalho; relação profunda com a família, com o negócio e com o meio rural; atuação em setores normalizados como femininos ainda que estejam ocupando altas posição dentro da hierarquia organizacional; em partes, o reconhecimento dos desafios e preconceitos impostos à mulher, porém, também foi perceptível a naturalização dessas imposições.