Pedagogia universitária em dança: entre saberes e modos de fazer

Abstract

A proposta deste livro nasceu quando uma de nós realizava sua pesquisa de doutorado. O referido estudo intentava compreender como nossas práticas pedagógicas nas licenciaturas em Dança têm se desenvolvido dentro das universidades. A pesquisa naquele momento teve como recorte as universidades federais, sendo assim, estavam inseridas a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Formamos outras professoras e outros professores de Dança enquanto nos formamos docentes universitárias. Educamos e nos educamos porque é este movimento contínuo que nos encaminha para “ser mais” na perspectiva tão bem adensada por Freire. Ouvir a cada colega que trazia detalhes de seu percurso pessoal e profissional na dança e na docência era muito bonito! Os olhares, os gestos, as palavras e as reflexões que emergiam das entrevistas foram reveladores de trajetórias únicas entre si, mas muito próximas no que se refere a uma espécie de “devoção à dança”. Não uma devoção no sentido mítico ou religioso, mas como reflexo, materialização da escolha por um modo de estar no mundo e, portanto, de intervir nele. Havia, há, em cada depoimento, uma entrega, uma existência, uma docência que é, antes de tudo, dança. Dança como o sentido de vida e educação. As histórias que cada professor, ou professora, trazia revelava, também, surpresas, descobertas que surgiam enquanto as respostas ao roteiro de perguntas que aquele encontro provocava. Este movimento revelou um caráter formativo que a própria pesquisa provocava, mas também deixou na superfície um tanto de produções e de valorosas práticas que cada docente desenvolvia individualmente, e que cada curso construía enquanto somatório destas vivências. Havia pedagogias e danças e pedagogias de danças que mobilizavam a consolidação de cada uma das graduações. Os corpos docentes se mostravam provocados pelas presenças plurais daqueles corpos estudantis que, a cada semestre ou ano, ingressavam nos cursos. Estávamos amadurecendo enquanto licenciaturas, consolidando identidades de cada graduação e principalmente encontrando nossos espaços e caminhos na pedagogia universitária, cada uma e cada um de nós em um momento diferente de nossa caminhada profissional. Era preciso ouvir mais essas vozes, registrar movimentos individuais e coletivos, perceber de que somos feitas e feitos, partilhar os sentidos que impregnamos em cada aula escrita, conversa, apresentação, criação, abraço, unir de mãos. Mobilizada por isso tudo, o desejo de gerar uma obra coletiva ficou latente. E essa gestação não poderia ser solitária, nem cabia. Assim, nos reunimos, uma de cada uma das três instituições e cursos, para juntas convocarmos, de forma amorosa, nossos grupos de colegas para então compilar um material que registrasse, nesse tempo histórico, nossas (an)danças. Mas, então, como começaríamos e qual seria a pergunta motivadora de nossas escritas? Em nosso trio, decidimos que partiríamos da proposta de pensar, analisar e compartilhar a nossa atuação como docentes formadoras e formadores nas licenciaturas em Dança. Nossa obra teria como foco, portanto, a docência universitária convidando-nos a revisitar nossos estudos de doutoramento e, a partir disso, construir uma reflexão sobre como estas pesquisas reverberam em nosso fazer e se desdobram no currículo das graduações nas quais atuamos (entendendo currículo como mais do que a estrutura de disciplinas, e sim como tudo que acontece na formação. Ensino, pesquisa, extensão, danças e andanças formativas que fazemos e transformamos em nossos cotidianos com os e as estudantes e colegas).