Estudo retrospectivo de Triatoma rubrovaria (Blanchard, 1843) no bioma Pampa, Brasil
Resumo
Doenças transmitidas por vetores ocorrem com mais frequência em zonas tropicais
e subtropicais, principalmente, em situação de vunerabilidade. Alguns
representantes da subfamília Triatominae são vetores da doença de Chagas (DC),
no Brasil, havendo cerca de dez espécies com importância epidemiológica. Triatoma
rubrovaria é capturado com persistência em zonas rurais de algumas regiões do Rio
Grande do Sul (RS), Brasil, sendo espécie adaptada ao bioma Pampa. Há
necessidade de se descrever sua distribuição de maneira pormenorizada neste
bioma, com intuito de verificar qual o potencial atual de transmissão da DC. O
objetivo desse estudo foi averiguar as ocorrências de T. rubrovaria no bioma Pampa
e em áreas de transição (Pampa/Mata Atlântica) do RS. O levantamento das
informações sobre o vetor ocorreu a partir de dados secundários disponibilizados
pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) do RS, e foram levados em
consideração os seguintes aspectos: ano de captura; município; formação vegetal;
número de espécimes capturados; invasão ou domiciliação; notificação no
intradomicílio, peridomicílio ou em ambos; infecção para T. cruzi. O período avaliado
foi de 2009 a 2020; a pesquisa abrangeu 109 municípios localizados no bioma
Pampa e 98 em áreas de transição. A tabulação dos dados foi realizada através do
programa Microsoft Excel®. Os valores foram expressos em frequência e
porcentagem e a comparação estatística entre as variáveis foi efetuada pelo teste
qui-Quadrado (χ2). No bioma Pampa 51 municípios notificaram a presença do vetor
em áreas de transição 19, o total de espécimes capturados foi 2.747. O bioma
Pampa apresentou 85% das ocorrências para T. rubrovaria, e 1,2% dos exemplares
estava positivo para T. cruzi. O 1° e 2° biênios (2009-2010 e 2011-2012)
concentraram 64,6% das capturas de T.rubrovaria. Os municípios no Pampa, com o
maior número de exemplares foram Alegrete e Canguçu, superior a 250 notificações,
seguido de Piratini (151 – 250). Para as áreas de transição, destacaram-se Roque
Gonzales, Santiago e Santana da Boa Vista, com ocorrências entre 50 – 150
espécimes. Ocorreu mais capturas no intradomicilio do que no peridomicílio; foram
encontrados mais adultos do que ninfas. T. rubrovaria é melhor adaptado ao bioma
Pampa, e, embora a positividade encontrada para T.cruzi seja baixa, a espécie
continua apresentando importância epidemiológica na região, sendo detectada em
70 (33,8%) dos 207 municípios avaliados, o que plenamente justifica a manutenção
da vigilância.