Trajetória do excesso de peso e fatores de risco para doenças cardiovasculares em adultos jovens
Resumo
O excesso de peso é uma condição associada com maior risco de hipertensão, diabetes e
doenças cardiovasculares. A revisão sistemática mostrou que o Índice de Massa
Corporal(IMC) na infância, combinado com o excesso de peso na idade adulta está associada
ao aumento do risco de hipertensão indicando que o ganho de peso durante o curso da vida
aumenta o risco de hipertensão. Outra revisão mostrou que o efeito do excesso de peso da
infância para a idade adulta é moderado pelo sobrepeso/obesidade na juventude. A maioria
dos estudos consideraram apenas dois pontos de tempo e foram realizados apenas em países
de alta renda. Neste contexto, o objetivo desta tese foi avaliar a associação do excesso de
peso ao longo do ciclo de vida e a composição corporal e os fatores metabólicos de risco
cardiovascular na idade adulta. Foram utilizados os dados dos acompanhamentos aos 2, 4,
18, 19, 23 e 30 anos, da coorte dos nascidos vivos em Pelotas, no ano de 1982. Em 2012-13,
todos os participantes da coorte de nascimento de Pelotas de 1982 foram procurados, dos
quais 3701 foram avaliados. Dados de peso, altura, composição corporal, pressão arterial,
glicemia e perfil lipídico foram coletados aos 30 anos. Para esta tese, três publicações
científicas foram elaboradas. Primeramente, elaborou-se um artigo com o objetivo de avaliar
a associação entre excesso de peso no ciclo de vida e a composição corporal na idade adulta.
Os participantes com sobrepeso ou obesidade somente na infância apresentaram composição
corporal semelhante aqueles que nunca apresentaram sobrepeso ou obesidade. Por outro lado,
os participantes que sempre apresentaram sobrepeso/ obesidade ao longo da vida tiveram os
maiores valores de gordura corporal. Realizou-se uma revisão sistemática procurando
evidências sobre a associação entre excesso de peso durante o ciclo de vida e os fatores de
risco para doenças cardiovasculares na idade adulta, e com os dados desta coorte foi realizado
o artigo abordando o mesmo tema da revisão. O estudo mostrou que nos participantes que
apresentaram sobrepeso ou obesidade somente na infância a pressão arterial foi similar a
daqueles que nunca apresentaram sobrepeso ou obesidade. Por outro lado, os participantes
que sempre tiveram sobrepeso/ obesidade ao longo da vida apresentaram os maiores valores
de pressão arterial sistólica e diastólica, glicemia ao acaso e menor colesterol HDL na idade
adulta. Já o colesterol LDL e os triglicerídeos estiveram associados com o índice de massa
corporal atual, independente do que foi observado em idades mais precoces. Além disso, foi
observado que a manutenção do excesso de peso ao longo da vida está associado a um perfil
metabólico cardiovascular desfavorável, e esta associação é mediada pela massa gorda na
idade adulta. Estes resultados sugerem que apresentar excesso de peso na infância não
necessariamente significa estar destinado a apresentar fatores de risco para doenças cardio
metabólica na vida adulta, e reforçam a importância de intervenções para reverter a obesidade
na infância.