Translinguagem e leitura: efeitos da instrução para práticas translíngues na compreensão leitora em francês como língua estrangeira
Resumo
O termo Translinguagem (Williams, 1994) foi empregado pela primeira vez nos anos
1990, cunhado originalmente em galês como trawsieithu por Cen Williams, com a
finalidade de denominar um modelo pedagógico no qual os alunos e professores
alternavam entre a língua do input e a língua do output. Com o passar do tempo, a
Translinguagem deixou de se concentrar exclusivamente em práticas pedagógicas,
generalizando a sua aplicabilidade da escola para as ruas, isto é, das salas de aula
para todo e qualquer aspecto do cotidiano de um sujeito bilíngue/multilíngue.
Segundo García (2009), o termo caracteriza a maneira como os falantes acessam os
vários elementos dos seus repertórios linguísticos em uma determinada situação
comunicativa. De acordo com Vogel e García (2017), esse repertório é composto por
vários elementos, de todos os níveis linguísticos, que são empregados levando em
conta o contexto comunicativo, os interlocutores e o assunto em discussão.
Entretanto, conforme expõe Morais (2022), as pesquisas em Translinguagem
investigam, majoritariamente, as práticas translíngues nas habilidades de produção
(escrita e oralidade) em detrimento das de compreensão. Dessa forma, o objetivo
geral deste trabalho foi o de investigar os efeitos da instrução para práticas
translíngues na realização e de tarefas de leitura em francês como língua
estrangeira. A fim de alcançá-lo, reuni quatro participantes, estudantes do curso de
Licenciatura em Letras – Português e Francês da Universidade Federal de Pelotas.
Esses quatro participantes formaram dois pares a fim de realizarem tarefas de
leitura, discussão e de compreensão. O denominado par monolíngue foi instruído a
executar todas as tarefas utilizando unicamente recursos da língua francesa; o outro
par, denominado par translíngue, recebeu permissão para empregar todos os
recursos dos seus repertórios linguísticos que julgassem necessários. Os resultados
sugerem uma baixa influência de instruções a práticas translíngues sobre o
desempenho nas tarefas de compreensão em língua estrangeira, uma vez que os
resultados obtidos pelo par monolíngue e pelo par translíngue foram bastante
próximos. As instruções pareceram trazer à tona práticas linguísticas já consolidadas
pelos participantes. Enquanto o par monolíngue usou somente recursos da língua
francesa tanto durante a resolução das tarefas quanto em interações não referentes
ao texto, o par translíngue recorreu a recursos da língua materna quando tinham
quaisquer objetivos comunicativos não ligados às tarefas que executavam.
Observou-se, dentre os participantes, o recurso a diferentes estratégias de leitura,
as quais contribuíram para o bom desempenho do par translíngue quando
envolveram o emprego de recursos do repertório linguístico além dos
exclusivamente ligados à língua francesa. Deixo a recomendação a professores de
línguas estrangeiras para o uso de recursos variados dos repertórios linguísticos dos
estudantes em sala de aula de maneira estratégica, por meio do ensino de
estratégias de leitura.