Memória inconsolável, narrativa como sepultura: trabalhos de luto em Elena de Petra Costa e K. Relato de uma busca de Bernardo Kucinski
Resumo
Amparada pelos estudos comparatistas, esta dissertação examina as relações entre as obras brasileiras contemporâneas Elena (2012) de Petra Costa e K. Relato de uma busca (2011) de Bernardo Kucinski. A primeira se trata de uma película na qual a diretora do documentário busca pela irmã mais velha que ainda jovem se suicidara na cidade de Nova York. Já a segunda, é um romance no qual o autor constrói uma narrativa polifônica a fim de contar a trajetória de um pai em busca do paradeiro da filha, desaparecida durante a ditadura civil-militar brasileira. Ambos os trabalhos partem da experiência familiar de seus autores, tanto Costa quanto Kucinski perderam suas irmãs em situações de caráter trágico. É por isso que Petra refere-se à irmã como sua memória inconsolável, pois a dor da perda antecipada resiste ao passar dos anos. Mesmo não se valendo dessa expressão, a memória de Kucinski também pode ser caracterizada por inconsolável por se tratar de um caso de desaparecimento, quando a situação não se resolve. Considerando esses aspectos, a pesquisa analisa a questão do luto, a importância do narrar nesse processo e as estratégias de reconstituição do corpo e da memória dos mortos. Discute ainda, a possibilidade dessas narrativas atuarem como lápides, sepulturas que preservam essas memórias, garantindo um espaço memorialístico para as irmãs falecidas. Para tanto, baseia-se em teóricos como Freud, Agamben, Butler, Benjamin, Gagnebin, Kehl, Barthes, entre outros artistas e pesquisadores.