Processo de adaptação do cuidador familiar para o cuidado da criança prematura no domicílio com base na Teoria de Enfermagem de Roy
Resumo
Com o nascimento prematuro e a internação na Unidade de Tratamento Intensivo
Neonatal, a família vivencia uma situação inesperada, que rompe com a idealização
que tinha no seu imaginário, gerando estresse, ansiedade e medo, influenciando na
sua vinculação com o bebê e, posteriormente, no cuidado à criança prematura após a
alta. O objetivo do estudo foi conhecer o processo de adaptação da família para cuidar
da criança prematura após a alta hospitalar. Trata-se de uma pesquisa de abordagem
qualitativa a luz da Teoria de Enfermagem do Modelo de Adaptação de Callista Roy,
desenvolvida com 16 cuidadoras familiares de crianças prematuras egressas de uma
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de um Hospital do Sul do Rio Grande do Sul.
A coleta de dados foi realizada através de entrevista semiestruturada, a qual foi
gravada, transcrita na íntegra, realizada dupla checagem e validada pelas
participantes. Foram utilizados como instrumentos complementares diário de campo,
genograma e ecomapa. O desenho gráfico do genograma e ecomapa foi realizado
com auxílio do software GenoPro 2020 (versão 3.1.0.1) e o WebQDA foi utilizado para
organização e categorização dos dados. Os dados foram analisados com base na
análise temática. Os dados foram organizados em três principais temas: ‘Processo de
cuidado à criança prematura: experiências e sentimentos da cuidadora familiar’; ‘A
influência da prematuridade durante o cuidado no domicílio’; ‘Sistemas de apoio
utilizados pela cuidadora familiar do prematuro’. O primeiro tema retrata os
sentimentos frente ao momento da alta hospitalar e durante o cuidado, de felicidade e
alegria em ter a criança em casa, mas ao mesmo tempo, medo, ansiedade e dúvidas.
O medo foi um sentimento constantemente relato ao longo do tempo no cuidado do
prematuro no domicílio, gerando uma superproteção. O segundo tema relata a
influência da prematuridade no cuidado da criança após a alta hospitalar, destacando
a preocupação com marcos do desenvolvimento, peso, alimentação, vacinação,
adoção de cuidados diferenciados a fim de evitar problemas de saúde, principalmente
respiratórios, inclusive da COVID-19. E o terceiro tema fala sobre os sistemas de
apoio, que são compostos pela família, companheiro e/ou pai da criança,
fé/espiritualidade e profissionais da saúde, além da sobrecarga da cuidadora familiar
que não recebe apoio. As cuidadoras familiares estão sempre expostas aos estímulos
focais (separação entre criança e familiares após seu nascimento e a experiência da
hospitalização), contextuais (medo, insegurança, angústia devido à experiência da
hospitalização) e residuais (superproteção e adoção de cuidados diferentes). Assim,
apresentam mecanismos de resistência inatos (atender a criança rapidamente frente
ao choro) e adquiridos (dar banho em uma criança prematura, fazer manobras de
desengasgo, alimentação por sonda). Dessa forma, essas cuidadoras apresentaram
respostas eficazes (bem-estar e alívio da sobrecarga) e ineficazes (medo da perda e
a sobrecarga). Nesse contexto, evidenciou-se que os sistemas de apoio e a
enfermagem podem auxiliar no processo de adaptação de forma positiva.