Ensaios em Desigualdades Socioeconômicas em Saúde
Resumo
A presente tese aborda dois ensaios na área de economia da saúde no contexto
brasileiro, utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde referentes aos anos de
2013 e 2019. O primeiro investigou a realização em saúde utilizando o cálculo do
Achievement Index. Para isso, foram analisados dois desfechos de saúde: a
autoavaliação de saúde como precária e o diagnóstico de doenças crônicas,
considerando os 26 estados e o Distrito Federal do Brasil. Os principais resultados
revelaram que a saúde autoavaliada como precária está mais concentrada entre os
indivíduos pobres em todos os estados. Em contrapartida, o diagnóstico de doenças
crônicas apresentou maior concentração nos indivíduos mais ricos na maioria dos
estados. A análise por unidades federativas destacou as disparidades regionais na
autoavaliação de saúde, evidenciando desigualdades significativas entre as regiões
brasileiras. De modo geral, a região Sul demonstrou melhores realizações na
autoavaliação de saúde, enquanto na região Norte, com exceção de dois estados,
apresentou piores realizações. Quanto à realização em saúde relacionada ao
diagnóstico de doenças crônicas, os resultados indicam uma pior realização em saúde
na maioria dos estados. O segundo ensaio focou na desigualdade socioeconômica na
autoavaliação da saúde como boa ou muito boa, em nove faixas etárias. Foi utilizado
o índice de concentração como método de análise, permitindo avaliar a magnitude
das desigualdades. Os resultados mostraram que a prevalência de saúde como boa
e muito boa diminuiu com o avanço da idade. Nos quintis inferiores de renda,
indivíduos com 70 anos ou mais apresentaram uma prevalência maior em ambos os
períodos analisados. O índice de concentração revelou que a autoavaliação de saúde
como boa e muito boa foi predominantemente concentrada entre os indivíduos ricos
para todas as faixas etárias. A estratificação por idade evidenciou que a maior
concentração ocorreu na faixa de 50 a 59 anos em 2013 e de 60 a 69 anos em 2019.
A análise também identificou os principais fatores que contribuem para essa
desigualdade em saúde, listados em ordem de importância: posição socioeconômica,
nível de escolaridade, posse de plano de saúde e residência na região sudeste.
Embora este estudo traga contribuições para a análise das desigualdades em saúde
no Brasil, é importante reconhecer suas limitações. Os dados utilizados são
transversais, o que impossibilita o acompanhamento da mesma população ao longo
do tempo. Além disso, as variáveis analisadas foram construídas a partir de
autorrelatos, o que pode introduzir vieses. Tais aspectos devem ser considerados ao
interpretar os resultados e na formulação de políticas públicas baseadas neste
trabalho. Esses estudos reforçam a relevância de analisar as desigualdades em saúde
considerando múltiplos fatores, como as condições socioeconômicas e demográficas.
A tese buscou contribuir para a literatura ao oferecer uma visão abrangente sobre as
disparidades regionais e etárias na saúde da população brasileira, utilizando métodos
robustos para avaliar as desigualdades socioeconômicas em saúde.