Os erros híbridos: um estudo sobre as hipersegmentações e os erros na grafia das vogais tônicas e das soantes palatais produzidos por crianças do ensino fundamental
Resumo
Esta dissertação de Mestrado tem como tema o estudo dos erros considerados híbridos na grafia das vogais tônicas, das soantes palatais /ʎ/ e /ɲ/ e nos processos de hipersegmentação de palavra. O objeto de estudo da pesquisa é um conjunto de erros extraídos de textos espontâneos produzidos por crianças frequentadoras de turmas de 1ª a 4ª série. Os textos pertencem ao estrato 1 do BATALE (Banco de Textos de Aquisição da Linguagem Escrita) e foram produzidos entre os anos de 2001 e 2004 por alunos de duas escolas da cidade de Pelotas, sendo uma pública e uma particular. Miranda (2020) define erro híbrido como aquele para o qual se pode atribuir mais de um tipo de motivação, ortográfica, fonológica ou fonográfica. Os dados foram analisados tomando como referência os estudos de Miranda (2008), Monteiro (2014) e Miranda e Pachalski (2020) com foco na grafia das vogais; Tavares (2019), Teixeira e Miranda (2008, 2010) e Miranda (2012, 2014) com foco na grafia das soantes palatais e Cunha (2004) e Ferreira (2011) com foco nos processos de hipersegmentação de palavra gráfica. Os resultados apontaram para comportamentos que diferem entre si em função do fenômeno em análise. Em relação aos erros referentes às grafias das vogais tônicas, identificou-se influência da ortografia e da fonologia em dados que mostraram alternância relacionada à altura das vogais, o que foi caracterizado como processos de supergeneralização de regras. Foram também analisadas trocas entre vogais, as quais se relacionaram com mudanças em traços de ponto de articulação e os resultados mostraram a estabilidade da vogal baixa e uma motivação decorrente de aspectos relacionados à fonografia por envolverem sequenciamento e traçado de letras. Quanto aos erros na grafia das soantes palatais, a maior parte das ocorrências envolveram grafias que reproduzem processos observados na aquisição da fala, ou seja, grafia da porção vocálica do segmento [i], grafia somente da porção consonantal [n] ou [l], fissão dos nós [ni] ou [li] ou ainda a omissão do segmento inteiro, conforme atestado no funcionamento fonológico das palatais. Observou-se ainda motivação fonográfica para um conjunto de erros relacionados ao estabelecimento de relações grafofônicas, por conta da complexidade de dígrafos com H. Quanto aos casos de hipersegmentação de palavra, a ortografia desempenhou papel relevante nas escolhas das crianças, a partir da identificação de formas gráficas semelhantes aos clíticos ou a potenciais palavras fonológicas. O estudo traz contribuição para a proposta do GEALE (Grupo de estudos sobre Aquisicão da linguagem Escrita) relativa à natureza dos erros (orto)gráficos e, consequentemente, para o desenvolvimento de práticas voltadas ao ensino da ortografia. ing spelling.