O discurso científico e a representação do indivíduo e do coletivo: uma análise literária de Les Rougon-Macquart, de Émile Zola

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Data
2025-07-08Autor
Santos, Kassandra Naely Rodrigues dos
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Mostrar registro completoResumo
A presente tese de doutorado propõe uma análise literária do discurso determinista,
de ordem social e hereditária, presente na relação entre o indivíduo e seu coletivo, tal
como desenvolvidos em diferentes romances do escritor francês Émile Zola. Busca se, ainda, identificar personagens que apresentem densidade psicológica e literária
capazes de romper com as questões defendidas pelo autor, como o determinismo
interno e o determinismo externo. As vinte obras analisadas pertencem à série literária
intitulada Os Rougon-Macquart: História Natural e Social de uma Família sob o
Segundo Império (1871–1893), a qual integra o movimento estético literário
naturalista, inaugurado pelo próprio Zola. Esse movimento retrata artisticamente a
sociedade por meio da observação fiel da realidade, fundamentando-se em conceitos
científicos vigentes à época, como a teoria determinista dos três fatores e a teoria da
hereditariedade. A teoria determinista, advinda do historiador Hippolyte Taine,
sustenta a crença na impossibilidade do ser humano exercer o livre-arbítrio, uma vez
que suas atitudes e reações estariam condicionadas a fatores pré-determinados,
como a raça, o momento histórico e o meio social. Por sua vez, a teoria da
hereditariedade, inspirada na medicina experimental do médico Claude Bernard,
defende que o processo de transmissão das características biológicas entre gerações,
incluiria também a herança de traços psicológicas e até dos vícios de seus
antecessores. Neste contexto, o conceito de coletivismo – que valoriza o bem comum
e os interesses do grupo acima dos interesses individuais – está associado à aplicação
do determinismo social e genético. Em contrapartida, o individualismo – que valoriza
a autonomia e a liberdade de escolha – representa uma ruptura com esse
determinismo. Durante o período de publicação dos romances, essas narrativas não
apenas propagaram ideias políticas e sociais, mas também atuaram como ferramenta
de denúncia do contexto histórico ao abordar problemáticas que envolvem tanto
ambientes mais interioranos – como a vida campestre, as disputas por terras e a
exploração de trabalhadores braçais – quanto os espaços urbanos, representados
pelo crescimento das grandes cidades, pela convivência entre diferentes classes
sociais, pela vida política, pelo luxo e pelo alto comércio, entre outras questões
pertinentes à França do século XIX. Assim, de maneira dialética, a realidade repercute
na escrita, ao mesmo tempo que a escrita influencia a realidade: o romance denuncia
a realidade, que, por sua vez, torna-se o alimento que fertiliza essa escrita.
